Suicídio é tema da primeira mesa de debates da 12ª Mostra de Psicologia

Categoria(s):  MOSTRA, Notícias   Postado em: 06/09/2018 às 12:03

“Precisamos falar sobre suicídio” foi o tema da primeira mesa de debates da 12ª Mostra Regional de Práticas em Psicologia, que ocupou o auditório da UERJ, na tarde do dia 29 de agosto. Sob a mediação da conselheira do CRP-RJ Rosilene Gomes (CRP 05/10564), a mesa contou com as falas de Fernando Gastal de Castro (CRP 05/45674), psicólogo, mestre em Psicologia  (PPGP-UFSC) e Sociologia (Paris 7), doutor em Psicologia (PPGP UFSC – Paris 7) e pós-doutor em Psicologia do Trabalho (UAB – Barcelona); Laura Cristina de Toledo Quadros (CRP 05/12561), psicóloga, Gestalt-terapeuta, doutora em Psicologia Social pela UERJ, professora adjunta do Instituto de Psicologia da UERJ e chefe do Serviço de Psicologia Aplicada da UERJ; e Anelise Lusser Teixeira (CRP 05/38657), psicóloga, mestre em Psicologia Social pela UERJ, doutora em Psicologia pela UFF e professora de Psicologia da Universidade Estácio de Sá.suicidio1

Fernando foi o primeiro palestrante da mesa e trouxe uma abordagem filosófica para a questão do suicídio, pontuando que o sentido da vida é uma das questões mais importantes e centrais para o ser humano. O psicólogo embasou sua tese sobre o tema com diversos pensadores das Ciências Humanas, dentre eles Marx: “este filósofo expõe que esta sociedade preconiza sistema excludentes em detrimento da felicidade dos indivíduos, através da otimização do tempo produtivo, o que amplia generalizadamente o mal-estar”. E continuou, “a não-realização do vir-a-ser leva o sujeito ao puro estado de negação, que por sua vez é alienante. O fazer, a práxis do sujeito passa a ser subordinada ao mercantilismo e à eficácia, o que desubjetiva o sujeito. ‘Tenho, logo sou’, o sujeito é porque consome”. “A escassez de relações humanas confiáveis e a escassez de tempo, leva a uma forte angústia e sentimento de opressão, o que, por sua vez, leva ao desespero suicida”, pontuou Fernando. “Vivemos num momento histórico no qual vemos a criação destrutiva, ao invés da antiga lógica capitalista de destruição criativa, e isso atravessa as subjetividades. Desse modo, cabe a Psicologia tecer estratégias de enfrentamento, dessa questão que tem provocado os indivíduos ao ponto de atitudes desesperadas como saída de um mal-estar constante e arrasador”, finalizou.

Laura, por sua vez, mostrou como os atravessamentos da vida cotidiana marcam de forma determinante os indivíduos, “temos um mundo que nos atravessa e atravessa nossas vidas e que podem nos criar tamanha dificuldade que podem nos levar a não ver saída, desejando, dessa forma, sair da vida”. E, apesar de ser um tema de grande importância, a psicóloga mostrou como ele fica nas sombras, “tanto no campo religioso, quanto no campo da saúde o suicídio é uma temática desagradável. Não devemos falar sobre isso, é o que normalmente nos diz a sociedade em geral. Entre nós, psicólogos, enfrentar a questão do suicídio, de um paciente, por exemplo, é um grande temor, até porque na graduação este é um tema também invisibilizado e pouco debatido”. Laura, trouxe ainda diversos depoimentos reais de pessoas falando sobre a ideia de suicídio ou de um sentimento tão forte de inadequação, que acabaria por levar a essa ideia de morte, e concluiu “muitas vezes nas práticas clínicas quando a gente desenvolve uma escuta e permite que essas coisas sejam ditas, e dá espaço para as pessoas falarem dessa experiência de querer morrer é muito importante. Ela deve poder se expressar, e ser acolhida e cuidada. Isso na nossa formação é muito importante”.suicidio2

Por fim, Anelise falou sobre o suicídio no mundo contemporâneo e se questionou “que mundo é esse em que a morte é uma saída?”. “O aumento do suicídio ou das tentativas de suicídio é uma questão que preocupa a todos da área da Saúde. Segundo a OMS, o suicídio é a segunda causa de morte entre crianças e adolescentes, com idade entre 10 e 24 anos. E esse estudo ainda estima que em 2020, a depressão será a segunda maior causa de incapacitação de pessoas, no mundo. No Brasil, o mapa da violência também indica essa tendência”, disse a psicóloga. Laura, utilizou as ideias de Spinoza para explicar que o suicídio só acontece por uma motivação externa ao sujeito, “a morte é sempre por causa externa. Até mesmo o suicídio, pois o suicida sofre algum ato externo que o obriga a esse ato contrário à sua natureza, que é a da sobrevivência”. A psicóloga mostrou ainda como o social influencia de forma determinante no suicídio, “por exemplo, um jovem homossexual tem mais chances de cometer suicídio do que um jovem hetero, devido à conjuntura social que o cerca. Outro dado, é mais comum o suicídio entre negros do que entre brancos.” E concluiu, “como construir espaço onde o sofrimento possa ser expresso? Como produzir encontros que potencializem a vida? Construir uma Psicologia com essas perguntas é construir uma Psicologia comprometida com a vida, e assim, também ajudar a construir um mundo onde a morte seja uma saída menos desejada”.

A conselheira do CRP-RJ e mediadora da mesa, Rosilene, pontuou ainda, “precisamos mesmo falar sobre isso. E não basta só olhar para o indivíduo, temos que ampliar nosso olhar para questão social. Basta pensarmos que, na verdade, o estudo social sobre suicídio inaugura a Sociologia, com Durkheim”.

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