Vídeo-debate sobre internação involuntária acontece no CRP-RJ

Categoria(s):  Notícias, SAÚDE   Postado em: 31/05/2006 às 15:33

O CRP-RJ sediou, na segunda-feira, dia 29 de maio, um vídeo-debate sobre a internação involuntária. No evento, que foi parte das comemorações pelo Dia da Luta Antimanicomial, foram exibidos o documentário “E a colônia virou metrópole – Fechamento do Hospital Estadual Teixeira Brandão – Carmo”, produzido pela Assessoria Estadual de Saúde Mental – SES-RJ, e trechos do longa-metragem de ficção “Bicho de Sete Cabeças”, de Laís Bodanzky. Após as exibições, os participantes ouviram as palestras da psicóloga Renata Brito, do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental (LAPS) da Fiocruz, e do psiquiatra José de Matos, assessor e técnico pericial do Ministério Público.

O documentário “E a colônia virou metrópole” aborda o processo de desinstitucionalização do Hospital Estadual Teixeira Brandão, localizado no município de Carmo. Em dezembro de 2003, o hospital foi fechado e os 204 pacientes que residiam nos pavilhões A e B foram reintegrados às suas famílias ou passaram a morar nas 29 residências terapêuticas criadas na cidade. O filme mostra como se deu esse processo bem sucedido de ressocialização dos usuários, com depoimentos de médicos, ex-funcionários, autoridades que participaram do processo, de cuidadores e dos próprios usuários.

Já “Bicho de sete cabeças” é inspirado no livro autobiográfico “Canto dos Malditos”, de Austregésilo Carrano Bueno, passado na década de 1970. Bueno conta como foi internado involuntariamente pelo pai, que descobriu que o filho se drogava. O filme, que foi adaptado para os dias atuais, é interessante por apresentar a realidade dos hospitais psiquiátricos do Brasil, além de mostrar que pouca coisa mudou nesses trinta anos. principalmente para quem psiqui prava.
O alto índice de internações involuntárias e as péssimas condições em que elas são feitas foram algumas das conclusões da pesquisa que o LAPS/Fiocruz realizou no Rio de Janeiro. A pesquisa foi apresentada na palestra da psicóloga Renata Brito, após a exibição dos vídeos. O grupo de pesquisa visitou três hospitais, onde entrevistou médicos, funcionários e pacientes, além de observar as emergências psiquiátricas e acompanhar as internações, quando era permitido. Segundo ela, houve casos de pacientes que chegavam com o Corpo de Bombeiros ou a Polícia e permaneciam algemados ou amarrados durante a consulta. Além disso, os pesquisadores constataram o pouco caso de muitos médicos com relação aos pacientes, que chegavam a ser tratados com grosserias.

Já a palestra do Dr. José de Matos definiu o Ministério Público e apresentou suas atribuições, principalmente no campo da Saúde Pública. Segundo ele, “a principal função do órgão é de inspeção e vigilância da democracia”. O psiquiatra também destacou as melhorias que o MP vem realizando no sistema de controle das internações, já que atualmente os hospitais estão obrigados por lei a informar ao órgão sobre as internações involuntárias.

Após as palestras, os integrantes da platéia colocaram questões e tiraram dúvidas com os participantes da mesa. O usuário Milton Freire, por exemplo, defendeu o fim dos hospitais psiquiátricos, destacando que “a pior coisa do mundo é ser objeto de lucro para donos de hospitais”.

31 de maio de 2006