Última mesa de debates do I Seminário reúne profissionais e estudantes

Categoria(s):  EDUCAÇÃO, MEDICALIZAÇÃO, Notícias   Postado em: 27/05/2015 às 10:57

“Ensino de Psicologia Escolar: conteúdos revelam práticas ou práticas revelam conteúdos?” foi o tema debatido na última mesa do evento, no dia 23 de maio. A mesa teve como mediador o psicólogo Francisco Portugal (CRP 05/19783), psicólogo, mestre e doutor em Psicologia Clínica pela PUC-Rio e professor adjunto do Instituto de Psicologia da UFRJ.

As palestrantes foram Ângela Fernandes, professora associada do Departamento de Psicologia da UFPB, Marilene Proença (CRP 06/6133), psicóloga, professora doutora do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da USP e membro da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), e Beatriz Sancovschi (CRP 05/30215), psicóloga e professora doutora do Instituto de Psicologia da UFRJ.

Ângela propôs uma análise profunda dos lemas lançados para a Educação pelo Governo Federal, sendo primeiramente “Educação para todos”, no qual a mensagem é claramente de um esforço para levar a educação à maior parte possível da população do país, enquanto que o slogan que substituiu esse primeiro é “Todos pela Educação”.

Segundo a psicóloga, essa troca de palavras, na verdade, embute a ideia da responsabilização de todos pela Educação. Assim, o governo deixa de ser o único ou maior responsável por fornecer as condições para a Educação e transfere essa responsabilidade para o professor, para o diretor, para a família e para todos os outros atores que de alguma forma se interligam e integram as práticas educacionais. Dentro dessa proposta ainda, de “Todos pela Educação”, os empresários, através dos institutos e do terceiro setor empresarial, entram com força no campo educacional. Com o lançamento dos programas do Governo, a Formação Continuada para os Professores ganha força, e com isso, a formação anterior é desvalorizada. A meta passa a ser alfabetizar todas as crianças até os oito anos, sempre através da cultura do desempenho, baseada em testes e avaliações.

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Marilene, por sua vez, pautou sua fala nos princípios ético-políticos que devem nortear a prática da Educação. Ela propôs uma série de questionamentos que, segundo ela, são pertinentes às (aos) psicólogas (os) na sua atuação escolar. “Deve-se pensar muito nestas questões: qual a função social da Escola? Escola para quem? Escola para quê? Escola a serviço de quem? Como a Psicologia têm se inserido no campo da Educação?”, enfatizou.

Os questionamentos e os saberes práticos, segundo a psicóloga, são, na verdade, o grande trunfo da Psicologia da Educação. Ela lembra que esse foi o primeiro campo da Psicologia a iniciar um processo de autocrítica e autoquestionamento. Para ela, essa discussão de pensar, inclusive, o papel ideológico da Psicologia acabou revolucionando a Psicologia Escolar. Beatriz, por sua vez, iniciou sua fala propondo uma problematização do próprio título da mesa “Ensino de Psicologia Escolar: conteúdos revelam práticas ou práticas revelam conteúdos?”.

Conforme afirmou, é preciso questionar essa relação entre conteúdo e prática, que não é da ordem da “revelação”, não é que um se revela em oposição ao outro. Segundo ela, seria uma relação muito mais da ordem da invenção: “Conteúdos inventam práticas ou práticas inventam conteúdos?”, ponderou.

“Não existe o ‘ou’ exclusivo, porque essa é uma relação da ordem do movimento”, acrescentou Beatriz. “Ou seja, conteúdos inventam práticas que inventam conteúdos que inventam práticas que inventam conteúdos e assim vai indefinidamente. É interessante pensar que não há oposição entre teoria e prática, mas sim uma relação dialética na qual há contribuição de ambas em prol de uma Educação cada vez melhor e cada vez mais abrangente”.

Finalizando as apresentações da mesa, o mediador Francisco fez uma importante ponderação sobre o currículo da Formação de Professores da UFRJ, na qual há apenas uma disciplina obrigatória de Psicologia Escolar. Segundo ele, essa questão deveria ser discutida e reformulada, já que torna deficiente o estudo da Psicologia inserida no campo da Educação, na preparação dos futuros professores.