Trocando em Miúdos debate violência de Estado e criminalização da pobreza

Categoria(s):  DIREITOS HUMANOS, Notícias   Postado em: 15/09/2008 às 11:38

“Nós, psicólogos, estamos sendo convocados pelo Estado somente para conter, apaziguar e amansar pessoas. Por isso, é preciso que nós pensemos melhor a nossa prática porque, enquanto profissionais, nossa função é produzir saúde, não contenção”, enfatizou a conselheira Suyanna Linhales Barker (CRP 05/27041), presidente da Comissão Regional de Direitos Humanos do CRP-RJ, durante a conclusão da 3ª edição do Trocando em Miúdos no ano.

Trocando em Miúdos debateu o tema: “A violência de Estado e a criminalização da pobreza”.

Trocando em Miúdos debateu o tema: “A violência de Estado e a criminalização da pobreza”.

O evento, ocorrido na noite do dia 11 de setembro, girou em torno do tema: “A violência de Estado e a criminalização da pobreza”. Para a mesa de debates, compareceram a psicóloga Luciana Knijnik (CRP 05/33458), membro do Grupo Tortura Nunca Mais, Marilene Lima Souza e Patrícia Oliveira da Silva, ambas da Rede Comunicações e Movimentos contra a Violência, e Valdean, de Imagens do Povo.

A abertura ficou a cargo de Valdean para falar um pouco sobre o projeto fotográfico Imagens do Povo, responsável por formar fotógrafos em espaços populares e desenvolver, a partir da fotografia, projetos sociais nessas comunidades.

Segundo ele, a fotografia é uma forma de se “documentar, a partir de um outro olhar, um espaço pouco documentado pela grande mídia: a favela”. Afirmou também que existem hoje cerca de 30 fotógrafos formados pelo projeto que continuam desenvolvendo trabalhos de documentação nesses locais. Algumas fotos desse acervo foram projetadas na palestra.

Em seguida, foi exibido o documentário “Fala corpo”, produzido e dirigido por Luciana Knijnik, abordando depoimentos de vítimas de tortura durante a ditadura militar (1964-85) que são atendidas pela Equipe Clínico-grupal do Tortura Nunca Mais, no Rio.

Após a exibição do vídeo, Luciana apontou que a violência de Estado – cristalizada no documentário sob a forma de repressão política – se manifesta de múltiplas formas e existe desde a chegada da Corte Portuguesa ao Brasil, em 1808, com a criação de todo um “aparato estatal repressivo”. Para ela, “não se está falando de responsabilidades individuais”, e há necessidade “de se rever o silenciamento” em torno da não-abertura dos arquivos da ditadura.

A terceira palestrante foi Marilene Souza, que se identificou como “uma das mães de Acari”, em referência à chacina ocorrida no bairro da Zona Norte, em 1990. De acordo com seu relato, ela começou sua militância contra a violência da polícia depois que sua filha desapareceu junto com outros dez jovens moradores da favela.

Ela se opôs enfaticamente à política de segurança pública adotada pelo atual governo estadual. “Eles dizem que nós somos máquinas de fazer bandidos; então eu digo que a nossa segurança pública é uma máquina de matar população negra e pobre”, e concluiu: “existe uma clara política de acobertamento dos crimes cometidos pela polícia”.

Patrícia Oliveira da Silva, por sua vez, expôs brevemente em que consiste a Rede Comunicações e Movimentos contra a Violência, da qual ela e Marilene fazem parte. Conforme afirmou, a Rede surgiu em 2004, logo após a Chacina do Borel, e seu trabalho consiste em dar apoio aos familiares das vítimas de crimes cometidos por policiais, fazendo visitas e promovendo acompanhamento constantes. Ao final, ela convidou todos a acessarem a página da Rede no site www.redecontraviolencia.org.

Por fim, a conselheira Suyanna sublinhou a importância de um “Estado que proteja o cidadão” e não aja como “capitão-do-mato”, conforme expressão anteriormente utilizada por Valdean para qualificar as ações da policia.

Participaram do evento aproximadamente 30 pessoas, que puderam, nessa ocasião, debater com os palestrantes os desafios contemporâneos do exercício da profissão de psicólogo.