Sexo e morte são temas de debate durante o 54º Cine Psi Baixada

Categoria(s):  Notícias, SUBSEDE BAIXADA   Postado em: 13/07/2018 às 15:32

Mais uma edição do Cine Psi Baixada aconteceu na Subsede do CRP-RJ em Nova Iguaçu reunindo, no dia 26 de junho, psicólogas (os) e estudantes de Psicologia da região para debater a temática “Sexo e morte no fazer psi”.

A conselheira-coordenadora da Comissão Gestora do CRP-RJ na Baixada, Mônica Valéria Affonso Sampaio (CRP 05/44523), abriu o evento destacando que o espaço do Cine Psi é voltado não apenas ao debate, mas também à formação e ao fortalecimento de redes entre profissionais e estudantes. “Atualmente, o psicólogo que trabalha em Políticas Públicas, especialmente, tem de atuar em redes, pois, caso contrário, o trabalho não avança”, ponderou.

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Viviane Siqueira

Viviane Siqueira Martins (CRP 05/32170), conselheira-secretária do CRP-RJ e integrante da Comissão Gestora, destacou a importância do debate sobre a morte num momento de insegurança pública e quando há grande dificuldade, por parte da sociedade como um todo, em elaborar o luto. “Precisamos conversar mais sobre isso para ver de que forma podemos fazer nossas intervenções como psicólogos”, defendeu.

Em seguida, para instigar o debate, foi exibido o filme “Meninos Tristes” (2016), que mostra a realidade de preconceito, exclusão, violência e morte que vitimam adolescentes homossexuais.

A primeira palestrante foi Maiara Fafini (CRP 05/43721), mulher travesti, psicóloga e coordenadora do Eixo de Diversidade Sexual e de Gênero da Comissão de Direitos Humanos do CRP-RJ. “Falamos pouco sobre sexo no saber psi, e a morte, discutimos menos ainda. Parece que esses temas são tabu não só na Psicologia como também na sociedade ocidental. Não é nada fácil falar sobre esses assuntos. Porém, nós, psicólogos, recebemos essas demandas a todo o instante na clínica, no CAPS, no CRAS, na escola, no hospital, etc”, disse ela.

“O medo de morrer muitas vezes faz com que vivamos como mortos vivos. Quer dizer, o medo da morte nos faz viver uma morte em vida”, analisou a psicóloga, que abordou também a patologização do sexo, especialmente da população LGBT.

“A quem interessa essa ideia de sexo como devassidão, pecado, falta de caráter, pouca vergonha, como crime, contravenção penal, como atentado ao pudor, como algo nocivo, destruidor, doença e morte?”, questionou. “Quando nos privam do sexo, entendendo aqui sexo como fluxo da vida, será que querem nos apartar da natureza? Será que querem nos fazer acreditar que a diversidade é perigosa? Será que querem colocar em nossa cabeça que a natureza é imperfeita e impura?”.

Por fim, Maiara enfatizou a importância das Resoluções do Conselho Federal de Psicologia 001/1999, que proíbe psicólogas (os) de desenvolverem práticas de patologização da homossexualidade, e 001/2018, que proíbe práticas de patologização da transexualidade e da travestilidade no âmbito da Psicologia.

Jean Vinícius, ativista em HIV/AIDS e Direitos Humanos, também abordou o processo de patologização do sexo, afirmando que “o sexo também pode ser um mecanismo de extermínio, pois, a partir dele, vários corpos considerados desviantes são socialmente eliminados”. Ainda segundo o ativista, “vivemos um momento de patologização do sexo, onde determinados setores da sociedade vêm tentando eliminar os sujeitos que desviam de algumas normas, como as pessoas trans”.

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Maiara, Tiago e Jean na mesa de debates

A seguir, Jean apresentou dados importantes do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais do Ministério da Saúde sobre a realidade do HIV/AIDS no Brasil. Conforme apontou, por ano, morrem cerca de 12 mil pessoas com HIV/AIDS. Ainda segundo os dados do Ministério da Saúde, há 900 mil pessoas infectadas com a doença no Brasil e estima-se que mais de 100 mil pessoas tenham HIV/AIDS e ainda não foram diagnosticadas.

Encerrando a mesa de debates, Tiago Santos (CRP 05/47737), psicólogo clínico e comunitário e colaborador do CRP-RJ, afirmou que o tema do evento “foi pensado porque o sexo é o que nos traz ao mundo e a morte é o que nos leva. Porém, apesar disso, essas duas temáticas são pouco abordadas na nossa sociedade”.

O psicólogo falou também sobre o suicídio. “Por que as pessoas cometem o suicídio? O ser humano tem pavor da morte. Nós tendemos a buscar o prazer e fugir do desprazer. Nesse sentido, por que as pessoas cometem suicídio?”, questionou.

“A população que apresenta uma sexualidade considerada dissidente apresenta um índice cinco vezes maior de casos de suicídio”, destacou ele. “Existe um mecanismo social de eliminação dessas sexualidades, de aniquilação desses corpos”.