Segunda mesa de debates do I Seminário aborda impasses da rotina escolar

Categoria(s):  EDUCAÇÃO, MEDICALIZAÇÃO, Notícias   Postado em: 27/05/2015 às 10:42

educa 4A mesa redonda “Ensino de Psicologia na Educação: o que dizem as ementas, o que produzem as teorias?” iniciou às 14h do dia 22 de maio e teve a participação de Fernanda Insfran (CRP 05/32798), psicóloga, professora adjunta da UFF e coordenadora do curso de licenciatura em Pedagogia, Diva Conde (CRP 05/1448), psicóloga e professora da Faculdade de Educação da UFRJ e Rosimeri Dias, pedagoga e professora do Departamento de Educação da Faculdade de Formação de Professores da UERJ.

A mediadora dessa mesa foi Aline Lage, professora de Psicologia no Instituto Nacional de Educação de Surdos e colaboradora da Comissão de Psicologia e Educação do CRP-RJ.

A primeira a falar foi a professora e psicóloga Diva Conde, que fez uma importante descrição histórica da formação de professores no Brasil, iniciando em 1835, com a primeira Escola de Formação de Professores em Niterói (RJ). Entre 1900 e 1960 foi o momento do fortalecimento e da valorização da Escola Normal. Porém, em 1971, a Formação de Professores passa a ser uma habilitação e, com isso, as Escolas Normais perdem a força e iniciam um processo de derrocada, no qual também todo o ideário em torno do professor fica difuso.

Segundo Diva, o fato de tornar-se uma habilitação transformou a Formação de Professores numa profissão de nível técnico, como outra qualquer, perdendo toda sua especificidade. E o processo de declínio não parou por aí, nas palavras da psicóloga: “Em 1996, ainda levamos um golpe nessa formação do ensino médio porque, a partir da Lei 9.394, diz-se que qualquer professor do Ensino Básico deve ser formado em faculdade”. “Porém, a verdade é que essa determinação não foi bem-sucedida, porque até hoje, por exemplo no Rio de Janeiro, existem 96 escolas de Formação de Professores funcionando. E essa é uma questão muito séria para Psicologia porque nada disso tem sido discutido. Quem está ensinando Psicologia nessas escolas de formação de professores?”, questionou ela.

educa 5Após a fala de Diva, foi a vez de Rosimeri Dias trazer sua contribuição. Ela, que há 11 anos atua como professora de Psicologia, explica que há muitos modos de “fazer” a Psicologia da Educação em um curso de Formação de Professores numa periferia, como em São Gonçalo, onde ela atua. A psicóloga parte de um questionamento que, segundo ela, ouviu de diversos professores na sua vida escolar: “Não adianta vir com teoria que o negócio aqui na escola é outro”, para problematizar a desvalorização dos saberes prático-locais, constantemente desprezados pelos acadêmicos.

Ela buscou embasamento em Foucault para mostrar como a verdade não é da ordem da paz, mas sim da ordem do movimento, e, com isso, a ciência deixaria de ocupar o papel central de única fonte de verdade e de saber verdadeiro. A preocupação excessiva em saber “quem falou” e “que autoridade tem para falar” faz perder uma grande gama de conhecimento baseado nas práticas e nas experiências, saberes absolutamente indispensáveis para chegar a uma Psicologia da Educação, e mais amplamente à Educação, de fato conectadas com as realidades locais.

A última contribuição da mesa foi da professora da UFF Fernanda Insfran, que, na linha de pensamento já iniciada por Rosimeri, falou da questão da valorização das práticas e experiências docentes, de dar voz ao professor como um dos principais atores dentro do universo escolar. Também ressaltou a importância da valorização do professor como profissional e agente determinante no processo de ensino-aprendizagem.

Conforme Fernanda explicou, através de sua experiência, foi percebendo a enorme desvalorização da Formação de Professores, na qual o próprio aluno já sabe a priori que será um profissional desvalorizado quando se formar. Fernanda não fala somente do “fracasso” da profissão do professor, mas também da “produção do fracasso escolar, que não é produzido pelo aluno, ou por uma família desestruturada. O fracasso escolar é produzido por um sistema falho e falido de avaliações e testes”. educa 6

Para ela, o papel da Psicologia na escola é justamente descontruir esse ideário pré-formatado, engessado, calcado num sistema de avaliações que pasteuriza a Educação e os saberes. “Não é abrir mão das teorias, mas é sair da Universidade e entrar de fato na Escola. É sentar no chão com as crianças, é ouvir os professores. É trocar”, finalizou.

Maio de 2015