Pré – Marcha das Mulheres Negras concentra mais de 400 manifestantes no Rio de Janeiro

Categoria(s):  DIREITOS HUMANOS, Notícias, RELAÇÕES RACIAIS   Postado em: 01/08/2015 às 17:01

AGO0715b_1  O dia 25 de julho foi o dia escolhido para lembrar e comemorar a histórica luta da Mulher Negra Latino Caribenha. No sábado e no dia 26 de julho deste ano, inúmeras marchas foram realizadas em várias partes do país. No Rio de Janeiro, o ponto de encontro foi na manhã do dia 26, no calçadão da Praia do Leme, onde reuniu mais de 400 pessoas com cartazes, faixas, tambores, grafites, muita dança e música afro colorindo a praia de uma das cidades mais caras do mundo.

A manifestante Jurema Werneke, que faz parte da Organização de Mulheres Negras: Criola, falou sobre a importância da marcha para o Rio. “Esta mobilização tem dois sentidos, é pelo dia Nacional da Mulher Negra como um dia de luta e o de chamar a sociedade para marchar com a gente. Viemos mostrar que estamos aqui contra o racismo e a violência. É bom afirmar ainda que a nossa luta não começou agora e ela vai seguir sempre enquanto houver racismo. Nosso grito é contra o racismo, contra a violência e pelo bem viver”, disse.

AGO0715b_2Para Flavia Souza, do grupo Afro Laje, afirmou também o quanto é importante essa marcha para as mulheres negras. “Assim ficamos mais unidas contra as opressões que sofremos. Mais firmes e com mais forças contra o genocídio, pela nossa visibilidade e liberdade de expressão, dentre diversos outros problemas que enfrentamos diariamente”, falou.

Ainda de acordo com outra manifestante Lu Brasil, participante do grupo Afro Grafiteiras, a arte é um ótimo instrumento para se reafirmar a identidade e colocar para o mundo o que cada mulher sente na pele. “A gente usa o grafite como empoderamento da mulher no cenário brasileiro. No final, deste curso que durou 6 meses e reuniu mais de 30 mulheres, nós vamos montar uma exposição com os trabalhos que fizemos, mostrando a nossa realidade, a realidade da favela, a vida da mulher nessa busca de empoderamento como resgate da nossa história”.

Para o Psicólogo Roberto Pereira, um dos representantes do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro na Secretaria Executiva de Saúde do Sistema Penitenciário no Rio, o Conselho, nesta gestão, tem se empenhado para debater cada vez mais estes temas, ele tem se demonstrado mais presente e dentro dos temas de lutas por direitos. “Estamos numa sociedade cada vez mais excludente, e esta é uma articulação em prol do bem comum, e o Conselho está cumprido o seu papel e engajado nesta pauta, temos que trazer mais os estudantes para dentro destes temas, temos que trazer mais as (os) psicólogas (os) para dentro deste debate”, concluiu.

AGO0715b_3Debatendo também o papel da Psicologia numa marcha como esta e em um tema que abrange hoje todo o Rio e país, a Psicóloga Carina Augusto da Cruz, disse que o racismo está muito presente na vida das pessoas e isto afeta a saúde mental de cada cidadã (ão). “É mais que necessário que o Conselho esteja discutindo este tema, esta é uma marcha contra a violência e contra todas as outras formas de opressão. Tudo isto está muito presente no cotidiano. Como psicóloga a gente percebe que há sofrimento decorrente do racismo, por isso, tamanha importância do Conselho de se fazer aqui presente”.

Terminando, a também Psicóloga Luciene Lacerda, afirmou que se sentiu feliz por ver hoje o Conselho do Rio dentro deste debate. “Sou psicóloga há 30 anos, eu sou do Conselho em um tempo em que ele não debatia a questão racial, hoje vejo esta questão ser colocada como pauta e toda a importância pelo significado de uma pessoa negra, na construção da identidade, e o quanto isso ajuda na saúde mental dessas pessoas”, falou.

Segundo Luciene, não se vê que, desde a educação existe a necessidade de afirmar o que as negras e os negros são; que eles têm uma identidade. “Somos maioria neste país, somos os que mais sofrem hoje. Dentro das questões que envolvem saúde e educação, a gente não vê tais discussões e práticas, e gente não vê a discussão do que faz de fato na vida de uma pessoa o racismo, seja na parte da vida da pessoa negra, seja na vida da pessoa branca. Se a gente quer de fato fazer uma vida saudável e uma vida integral, a gente precisa de fato levar essas políticas cotidianas para mudar esse cenário”, finalizou.

A Marcha da Mulheres Negras 2015 contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver será realizada em Brasília, no dia 18 de novembro. A Marcha foi idealizada, no Tulip Inn Hotel, Salvador-BA, por ocasião do Encontro Paralelo da Sociedade Civil para o Afro XXI: Encontro Ibero Americano do Ano dos Afrodescendentes (16 a 20 de novembro de 2011).

Sobre a data, a Psicóloga Maria da Conceição Nascimento, da CRDH, faz referência à Nota Pública lançada pelo Comitê Nacional Impulsor da Marcha das Mulheres Negras 2015 contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver:

 

“Brasilia, 11 de janeiro de 2015.

O Comitê Nacional Impulsor da Marcha das Mulheres Negras 2015, reunido em Brasília nos dias 10 e 11 de janeiro, definiu pela alteração da data de realização da Marcha […] para o dia 18 de novembro de 2015, na capital federal.

A mudança de data é decorrente da avaliação das organizações que integram o comitê nacional sobre:

– o recrudescimento do racismo e sexismo e o avanço das forças conservadoras e neoliberais no Estado e na sociedade civil;

– a composição de uma agenda contínua de enfrentamento à violência racial e patriarcal em todos os espaços que se façam necessários com respostas contundentes e sistemáticas do movimento de mulheres negras em âmbito local e regional;

– novas interlocuções políticas que demandam novas estratégias de combate ao racismo e ao sexismo.

[…]

No mesmo encontro, o Comitê assumiu o caráter executivo, sendo composto por: Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), Associação das Pastorais Negras (APNs), Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), Coordenação Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), Fórum Nacional de \mulheres Negras, Movimento Negro Unificado (MNU) e União de Negros pela Igualdade (Unegro).”

 

A Marcha, em homenagem às ancestrais e em defesa da cidadania plena das mulheres negras brasileiras, porque:

  • nós mulheres negras (pretas + pardas) somos cerca de 49 milhões espalhadas por todo o Brasil;
  • o racismo, o machismo, a pobreza, com a desigualdade social e econômica, tem prejudicado nossa vida, rebaixando a nossa auto-estima coletiva e nossa própria sobrevivência;
  • o fortalecimento da identidade negra tem sido prejudicado ao longo dos séculos pela construção negativa da imagem da pessoa negra, especialmente da mulher negra, desde a estética (cabelo, corpo, etc.) até ao papel social desenvolvido pelas mulheres negras;
  • as mulheres negras continuam recebendo os menores salários e são as que mais têm dificuldade para entrar no mundo do trabalho;
  • a construção do papel social das mulheres negras é sempre pensada na perspectiva da dependência, da inferioridade e da subalternização, dificultando que nós possamos assumir espaços de poder, de gerência e de decisão, quer seja no mercado de trabalho, quer seja no campo da representação política e social;
  • as mulheres negras sustentam o grupo familiar desempenhando tarefas informais, que as levam a trabalhar em duplas e triplas jornadas de trabalho;
    ainda não temos os nossos direitos humanos (direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais) plenamente respeitados.

Leia mais no site: https://mamapress.wordpress.com/2015/07/26/pedrina-de-deus-escreve-sobre-o-25-de-julho-dia-da-mulher-negra-latino-americana-e-caribenha/.

Agosto de 2015