Mesa Redonda “Ética, política e desafios no trabalho de psicólogas (os) na Saúde e na Clínica” acontece na sede do CRP-RJ

Categoria(s):  Notícias, SAÚDE   Postado em: 02/05/2018 às 12:54

Para marcar a importância do Dia Mundial da Saúde, a Comissão de Saúde do CRP-RJ promoveu, no dia 18 de abril, na sede do CRP-RJ, a mesa redonda “Ética, política e os desafios no trabalho de psicólogas (os) na saúde de na clínica”. O objetivo do evento foi debater os conhecimentos e os desafios das (os) psicólogas (os) no dia-a-dia de trabalho, seja na clínica privada ou nas unidades públicas.

A conselheira-presidente do CRP-RJ, Diva Lúcia Gautério Conde (CRP 05/1448), abriu o debate destacando o movimento das (os) psicólogas (os) que, cada vez mais, saem dos consultórios para atuar em equipamentos públicos. “Saímos desse espaço da clínica psicológica e fomos à rua, fomos de encontro à população brasileira: no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Assistência Social, nas medidas de proteção à criança, no Poder Judiciário”.

A mesa foi mediada pela conselheira-coordenadora da Comissão de Saúde do CRP-RJ, Rita Louzada (CRP 05/11838).

Júlio César Nicodemos (CRP 05/34432), psicólogo, psicanalista, professor de Psicologia e coordenador do Núcleo de Psicologia Aplicada da Universidade Salgado de Oliveira, supervisor clínico-institucional do CAPSad Alameda e da Equipe de Redução de Danos de Niterói, iniciou o debate falando sobre a política de guerra às drogas, que resulta, entre outras, na criminalização dos usuários.

evento dia saude

Da esq. para dir.: Júlio Nicodemos, Rita Louzada, Vanda Almeida e Sábata Rego

“O modo como nossas leis criminalizam os usuários de drogas diz respeito diretamente ao sofrimento psíquico daqueles de diretamente sofrem as consequências das intervenções, nas superlotações dos presídios, por exemplo, ou diz respeito indiretamente a todos os habilitantes da cidade que experimentam a violência urbana, cotidiana, provocada por essa guerra falida de interesse para poucos”, analisou.

O psicanalista contou uma experiência profissional vivida em 2012, durante uma intervenção da Prefeitura na Avenida Brasil para recolhimento dos usuários de crack, quando estes foram recolhidos de forma compulsória para garantir a “limpeza” da cidade no período anterior à Copa do Mundo de futebol.

“Numa das ações para internação forçada dos usuários de crack, um menino de aproximadamente dez anos corre para fugir do seu recolhimento forçado, um sequestro legalizado pelo Estado. Durante a sua fuga, é atropelado e morto pela viatura da própria Prefeitura, teoricamente responsável pelo seu cuidado e proteção. Dias depois, recebemos sua mãe no posto de saúde, onde situava nossa sede de trabalho no consultório na rua. Estranhamente ela foi encaminhada pela própria Prefeitura para obtenção de cuidados para sua depressão e seu uso de cocaína. Isso me causou grande incômodo, pois a instituição que lhe ofereceu cuidados, a Prefeitura, foi a mesma que matou seu filho de 10 anos”, revelou.

Seguindo com o debate, Sábata Rodrigues de Moraes Rego (CRP 05/46050), trabalhadora desde 2016 do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), vinculado a duas unidades básicas de Saúde no Complexo da Maré, abordou os retrocessos no campo da Saúde Pública e o cenário de precarização do SUS.

Conforme destacou, diante desse cenário, é imprescindível a participação de psicólogos na luta em defesa do SUS e do Estado democrático de direito, através, principalmente, do comparecimento em espaços de discussão e luta, como o fórum de Saúde, o Nenhum Serviço de Saúde a Menos e nas assembleias que estão sendo realizadas pelo Sindicato dos Psicólogos com apoio do CRP-RJ. Ainda segundo ela, é preciso encorajar os psicólogos a ocupar esses espaços coletivos e trazer seu olhar sobre a subjetividade para o campo da luta prática e objetiva.

Em seguida, Sábata destacou a importância da multidisciplinaridade na Equipe de Saúde da Família (ESF) e do papel do agente comunitário de saúde. “Uma ESF conta com um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem, um profissional de saúde bucal e de agentes comunitários de saúde, que são o pilar para o desenvolvimento do SUS, o pilar para qualquer aproximação com a população e compreensão das diversidades nos territórios”, afirmou.

“O agente comunitário de saúde é um profissional fundamental para pensarmos a saúde como um direito de todos porque ele é imprescindível para o trabalho de Atenção Básica. Quando se defende que a ESF não precisa ter agente comunitário, se encerra totalmente a comunicação do sistema de saúde com a população”, argumentou a psicóloga.

Encerrando a mesa, Vanda Assumpção de Almeida (CRP 05/3010), psicóloga, psicanalista, mestre em Teoria e Clínica Psicanalítica pela UFRJ e membro associado do Instituto de Clínica Psicanalítica do Rio de Janeiro (ICP-RJ), falou sobre clínica psicanalítica e o papel do psicanalista no mundo, trazendo como contribuição ao debate o texto “O analista cidadão – A Psicanálise na contemporaneidade”, que destaca que o psicanalista deve estar atento às imposições e transformações da cultura e seus efeitos na subjetividade humana, questões presentes desde Freud e Lacan.

De acordo com a psicanalista, o texto destaca também que a civilização humana está em permanente mutação e, desse modo, vai impondo mudanças que refletem na subjetividade do sujeito. Por isso, afirma ela, independente do lugar em que esteja – seja na clínica ou em instituições, no CAPS ou em hospitais, o “analista cidadão” é chamado a responder em nome dessa causa, a Psicanálise, de modo a mantê-la  viva no mundo, subvertendo os efeitos da políticas higienistas, segregacionistas e que não atentam para o que há de singular a valorizar o sujeito.

O evento foi transmitido ao vivo através do canal do CRP-RJ no Youtube. Assista a qualquer momento clicando aqui.