Debate com estudantes de Psicologia sobre Reforma Psiquiátrica acontece no CRP-RJ

Categoria(s):  Luta Antimanicomial, Notícias, SAÚDE   Postado em: 09/07/2018 às 10:32

Encerrando a agenda de eventos da Comissão de Saúde do CRP-RJ em comemoração ao Dia da Luta Antimanicomial, aconteceu, no dia 28 de junho, na sede do CRP-RJ, a mesa de debate “A importância da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial na formação da Psicologia: experiências de estudantes”. O evento, que seria realizado inicialmente no dia 29 de maio, mas foi adiado por conta da greve dos caminhoneiros, reuniu estudantes de Psicologia de diversas instituições do estado do Rio.

O debate foi aberto pela conselheira-presidente do CRP-RJ, Diva Lúcia Gautério Conde (CRP 05/1448), que ressaltou que a Luta Antimanicomial deve ser contínua. “Nós estamos fechando nossas atividades comemorativas ao dia da Luta Antimanicomial, mas não a nossa luta porque ela tem se revelado necessária e incessante”, afirmou ela, destacando que “o país passa por um processo muito difícil de derrubada da Reforma Psiquiátrica e de desmonte da saúde pública”.

Mediada pela conselheira-coordenadora da Comissão de Saúde, Rita Louzada (CRP 05/11838), a mesa teve participação dos estudantes Caíque Azael Ferreira da Silva, da UFRJ, Ingrid Lemos de Oliveira, da UNIVERSO, Danubiah da Silva Mendes Pereira, da UNIABEU, Isabella Cantarino Pires Oeby, da UFF – Rio das Ostras, e Vinícius Menezes Moreira, da FAMATH.

IMG_4324Caíque problematizou a formação em Psicologia, que, segundo destacou, de forma geral, ainda não contempla as demandas atuais da população brasileira. “Nós acompanhamos agora a primeira reforma curricular do curso de Psicologia, implementada em 2016. Então, isso quer dizer que desde as décadas de 50 e 60 continuamos nos formando a partir de uma forma de se pensar e organizar a Psicologia que atendia aos interesses de um tempo e não necessariamente de um povo”.

Ingrid falou sobre sua experiência como estagiária pela Liga de Psiquiatria da UFF. “Nesse estágio, tive a oportunidade de acompanhar uma equipe de CAPSAD, na rua, com usuários de drogas que estão em situação de rua”. Dentre suas experiências vividas nas ruas, Ingrid destacou a de “João” – nome fictício empregado para proteger sua identidade –, um usuário de crack que hoje vive em situação de rua com o irmão mais novo. “João não é um zumbi, não é um cracudo ou qualquer outro termo pejorativo. João é um sujeito, com suas questões, necessitado de uma atenção psicossocial. João não é a droga que ele utiliza”, defendeu.

Danúbiah abordou a importância de olhar a formação dos novos profissionais com mais atenção e cuidado, especialmente no momento atual vivido no Brasil. Acrescentou que o contato com a pesquisa de iniciação científica, junto à Fundação Oswaldo Cruz, contribuiu para pensar na formação dos profissionais que atuam no contexto da Reforma Psiquiátrica. Ela também defendeu a ampliação dos equipamentos e ações afinadas com a RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) e a Reforma Psiquiátrica brasileira. “Vivemos um momento de desmantelamento das estruturas de saúde pública. Com isso, o ideal seria pensar não só em uma reforma que inclua os usuários da rede de saúde mental à sociedade, mas que esteja comprometida com o interesse da classe trabalhadora”.

Isabella, que também é estagiária do CAPS de Rio das Ostras, contou sobre a atuação do Núcleo Regional da Luta Antimanicomial Casemiro de Abreu, Rio das Ostras e Macaé. “O grupo se reúne todo mês, cada mês em uma cidade para discutirmos os acontecimentos dos nossos municípios”, afirmou, destacando, em seguida, os problemas comuns enfrentados pela rede de Saúde Mental nos municípios do interior do estado do Rio, tais como a precarização dos equipamentos e a carência quantitativa de profissionais.

Encerrando a mesa, Vinícius falou sobre a experiência que o fez se envolver diretamente na Luta Antimanicomial através de um trabalho desenvolvido sobre a história da loucura. Conforme relatou, foi a partir desse trabalho que ele começou a pesquisar mais sobre o Hospital Psiquiátrico de Jurujuba, em Niterói. “Como aquele hospital afeta tanta gente em Niterói. É impressionante como aquele hospital afeta a rede de Niterói. Quando eu visitei o hospital pela primeira vez, foi uma experiência horrível. Aquilo precisa acabar de qualquer jeito”, defendeu.

Ao final do debate, a conselheira Rita Louzada ressaltou a importância de todas essas experiências nas graduações em Psicologia no estado do Rio e fez um chamado ao engajamento de todos os estudantes e psicólogas (os) na defesa do tratamento em liberdade, proposto pela Reforma Psiquiátrica, e concluiu reafirmando que “lutar contra o manicômio é lutar contra a opressão”.