Grande ato da Cinelândia celebra o Dia Nacional de Luta Antimanicomial

Categoria(s):  Luta Antimanicomial, Notícias   Postado em: 19/05/2010 às 16:11

No dia 18 de maio é comemorado o Dia Nacional de Luta Antimanicomial. Este ano, a data foi celebrada com um grande ato público na Cinelândia, no Rio de Janeiro, organizado pelo CRP-RJ, TV Pinel e ENSP/Fiocruz. O evento, que contou com participação de bandas, grupo de teatro e outras atrações, tinha como objetivo conscientizar a sociedade para a importância do fim dos manicômios e de todas as formas de opressão para com a loucura.

Dando início à comemoração, o grupo Pirei na Cenna, do Centro de Teatro do Oprimido, realizou um “teatro-fórum”. Nessa forma de teatro, é encenada uma situação que envolve um oprimido e um opressor, que impede que o primeiro realize um desejo. Em seguida, a plateia é convidada a participar, assumindo o lugar do oprimido e mostrando o que faria diferente naquela situação.

A cena levada pelo grupo contava a história de um usuário de Saúde Mental que, após sair de uma instituição, encontrava dificuldades em conseguir emprego. Quando finalmente consegue, passa por humilhações e acaba sendo demitido. A peça serviu para provocar uma reflexão sobre o trabalho na Saúde Mental.

Em seguida, houve apresentações de dois blocos carnavalescos. O primeiro, Loucura Suburbana, desfilou por toda a Cinelândia levando cartazes relativos à luta antimanicomial e mostrando que a loucura pode ser integrada na sociedade e que uma das formas de fazer isso é através da cultura. O Coletivo Carnavalesco Tá Pirando, Pirado, Pirou realizou um show logo após, enfatizando essa mensagem.

As apresentações dos blocos foram seguidas dos shows de três bandas: Cancioneiros do IPUB, formado por pacientes e profissionais do Instituto de Psiquiatria da UFRJ e artistas; Harmonia Enlouquece, de usuários e profissionais do Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro (CPRJ) e músicos; e Chicas, banda que, sensibilizada, apoiou o evento.

Foi exibido ainda um vídeo produzido pela TV Pinel com depoimentos de transeuntes sobre o ato público e com a opinião deles sobre os loucos, a loucura, os manicômios e quais as formas possíveis de tratamento da loucura. Todas as atividades foram costuradas pelo apresentador Zé Tonhão. Outra atração do evento foi o poeta Pedro Rocha, que declamou poesias no palco.

No intervalo entre as atrações, o psiquiatra e pesquisador da Fiocruz Paulo Amarante falou sobre a importância da data. “Esse não é o único evento para celebrar o dia da Luta Antimanicomial. Neste exato momento, no Brasil inteiro, ocorrem eventos dessa magnitude. No dia 18 de maio, que façamos a sociedade nos ouvir para acabar com a discriminação, com os manicômios e com a exclusão para conquistar a cidade e mostrar para ela que a sociedade é múltipla, plural”.

Beatriz Adura, psicóloga, assessora técnica do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas do CRP-RJ, militante do movimento antimanicomial e uma das organizadoras do evento destacou que “este evento é a prova de que uma profissão só não faz coisa alguma. É preciso uma prática integrada entre todos os profissionais da Saúde para mostrar que outras formas de tratar a loucura são possíveis”.

O público, que reunia profissionais de Saúde, usuários e transeuntes, aprovou a iniciativa do evento. A psicóloga Flávia Freire declarou que achou o encontro “maravilhoso, porque está imbuindo outras pessoas, o que é absolutamente necessário para o Movimento de Luta Antimanicomial”.

Segundo a assistente social Patrícia Vieira, o evento foi “uma inovação”. “Estou vendo pessoas interagindo bastante, e, ao mesmo tempo, não consegui identificar nenhum paciente de Saúde Mental entre os participantes”.

O encontro também foi importante para que cidadãos que passavam pelo local tomassem conhecimento do movimento. “Acho que foi uma iniciativa fundamental para publicizar a Luta Antimanicomial e o dia 18 de maio”, afirmou o cantor Alexandre.

Zélia Gama, assistente administrativa, reforçou essa ideia: “Eu não conhecia o movimento e passei a conhecer com esse ato. Eu estava passando e resolvi parar. E estou achando maravilhoso porque precisamos participar mais de iniciativas como esta”.

Opinião parecida expressou José Augusto, funcionário em uma empresa de engenharia: “O evento foi ótimo, bastante produtivo para mim. Não conhecia o movimento. Acho que poderia acontecer mais vezes para mais pessoas aprenderem sobre essa luta”.

A data

O Dia Nacional de Luta Antimanicomial foi instituído em 18 de maio em alusão ao Congresso de Trabalhadores de Saúde Mental, que instituiu o Movimento Nacional de Luta Antimanicomial (MNLA), em 1987. Desde então, diversas ações vêm sendo realizadas por esse e outros movimentos com o objetivo de por fim aos manicômios, promover mudanças no cenário da atenção à saúde mental e questionar as relações de estigma e exclusão que foram estabelecidas social e culturalmente para as pessoas que vivem e convivem com a loucura.

Clique aqui para ver fotos do evento.

19 de maio de 2010