Os psicólogos do Rio de Janeiro tiveram a oportunidade de conhecer a história do preso político Aparecido Galdino Jacintho durante a pré-estréia carioca do documentário O Profeta das Águas, no dia 26 de março. O auditório da Casa Rui Barbosa estava cheio para receber o diretor do filme Leopoldo Nunes, que debateu com a platéia algumas das questões abordadas pelo filme, como a ética profissional dos psicólogos e a finalidade da existência de manicômios judiciários.
Participaram também da mesa debatedora a conselheira do CRP-RJ e membro do Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM-RJ), Cecília Coimbra, a presidente da Associação dos Documentaristas e Curta-Metragistas do Rio de Janeiro (ABD&C), Beth Formaggini, e o psicólogo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Eduardo Passos.
Leopoldo Nunes terminou o documentário “O Profeta das Águas” após duas décadas de pesquisas, trabalho que resgatou documentos históricos e reconstruiu detalhes de uma história que não constará jamais dos arquivos oficiais. O documentário trata da trajetória de vida do líder religioso Aparecido Galdino Jacintho, que na década de 1970 se opunha à construção da hidrelétrica de Ilha Solteira, localizada no Rio Paraná.
Por causa da mobilização gerada por Galdino, ele é enquadrado na Lei de Segurança Nacional e interrogado por todos os tribunais militares. Ficou detido, junto com outros presos políticos, nos presídios do Barro Branco, Tiradentes, Carandiru, além das cadeias do Dops e DOI-CODI, mesmo sem qualquer acusação que o condenasse.
Em 1972, Galdino é transferido para o manicômio judiciário de Franco da Rocha, tornando-se o primeiro caso a revelar o uso da instituição psiquiátrica para o encarceramento de presos políticos. Depois de nove anos de prisão, Galdino é libertado com o apoio da igreja católica, de jornalistas e intelectuais.
Durante o debate, Leopoldo Nunes falou da importância que o filme tem para ele. “Esse filme é sobre mim mesmo. Parte dessa história ficou submergida e eu fui lá no fundo para o ver o que tinha lá embaixo”, disse ao explicar que era da mesma cidade onde nascera o profeta.
