A segunda mesa de debates do II Fórum de Psicologia na Baixada Fluminense reuniu coordenadores de curso de três universidades da região para debater “Formação em Psicologia: Ênfases e Diretrizes Gerais”. Mediada pela psicóloga Rogéria Thompson (CRP05/52415), integrante da Comissão Gestora da Baixada, a mesa teve participação Ralph Ribeiro Mesquita (CRP 05/8923), da Universidade Estácio de Sá de Nova Iguaçu, Roberta Barzaghi e Sá (CRP05/50228), da UNIGRANRIO de Caxias e Nova Iguaçu, e Déborah Uhr (CRP 05/19590), coordenadora do SPA da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica.
Ralph Mesquita iniciou sua fala contextualizando historicamente a regulamentação da Psicologia em 1962, destacando o caráter elitista, privatista e individualizante da prática psi naquela época. “Em que mudamos de 1962 para cá?”, questionou. Na avaliação do coordenador da Estácio de Nova Iguaçu, a Psicologia, como ciência e profissão, ainda não rompeu completamente com os paradigmas vigentes na época de sua regulamentação.
“A despeito do que as próprias diretrizes falam, me parece importante pensar em que representações de ser humano, de sociedade e de Psicologia estão fundadas as demandas discentes e as ofertas docentes. Isso não está desvinculado”, ponderou. “No momento atual de desorganização da sociedade, não podemos desconsiderar os inúmeros projetos de patologização da vida social e esfacelamento do espaço coletivo. Isso está dentro da universidade e nós estamos respondendo a isso, estamos dizendo aos nossos alunos como resolver isso. E estamos dizendo, pela minha experiência acadêmica, que vamos resolver isso clínica e individualmente. Eu acho isso da maior gravidade”, acrescentou.
Roberta Barzaghi enfatizou que, independente da sua área de atuação, a (o) psicóloga (o) deve se reconhecer como uma (um) profissional de Saúde. “Nós, psicólogos, precisamos desenvolver algumas competências básicas que são do campo da saúde. Precisamos entender de comunicação e saúde, precisamos saber trabalhar em equipe, precisamos saber trabalhar com epidemiologia, mesmo que trabalhemos em qualquer outro campo que não a saúde especificamente. A nossa prática é uma prática de saúde, mesmo que sejamos executivos em uma grande multinacional”, argumentou.
A coordenadora da UNIGRANRIO destacou ainda que “a perspectiva de formação em Psicologia não é mais disciplinar”. Segundo ela, “a perspectiva disciplinar de formação em Psicologia já está superada e a formação deve ser pensada dentro de uma perspectiva por competência”. Por fim, ela afirmou: “A formação não termina na graduação”.
A última fala da mesa foi de Deborah Uhr, que abordou o lugar da clínica na formação em Psicologia a partir de sua experiência como supervisora clínico-institucional da rede de Atenção Psicossocial. “O que eu vejo, no campo da saúde mental, é uma formação e uma orientação geral importante em relação à clínica ampliada, à Atenção Psicossocial e a todo esse movimento de revisão da clínica tradicional, o que é absolutamente necessário. Mas vejo também uma espécie de negação da clínica naquilo que ela permite perceber o sintoma no seu sentido mais singular, como expressão de um posicionamento subjetivo”, afirmou.
“Concordo plenamente com o investimento da formação universitária para a atuação do psicólogo no campo das políticas públicas. Mas me questiono o que se passa na formação que faz parecer que as diretrizes gerais do fazer psi no campo público são suficientes para o cuidado. Elas não são suficientes para o cuidado”, argumentou. “É preciso uma formação clínica. Se ensinamos que existe uma cisão entre clínica e política, entre indivíduo e a sociedade, entre o singular e o coletivo, então estamos formando mal os alunos”, finalizou.