Denise Defey faz conferência sobre psicoterapia na III Mostra

Categoria(s):  MOSTRA, Notícias   Postado em: 21/07/2009 às 15:39

Uma das principais atividades do primeiro dia da III Mostra Regional de Práticas em Psicologia foi a conferência Psicoterapia no mundo atual: aspectos sócio-políticos da Psicoterapia, com a psicóloga uruguaia Denise Defey, professora da Universidade da República e da Universidade Católica do Uruguai, diretora do Insituto Agora de Pós-graduação em Psicoterapia Focal Psicoanalítica e Intervenção em Crise (Uruguai).

Denise começou ressaltando que a definição de psicoterapia que envolve subjetividade, política e mundo é muito nova. “muitos ainda veem a psicoterapia como uma área que lida com o sofrimento e com a vulnerabilidade humana, principalmente da criança. A psicologia seria especialmente sensibilizada para esse desamparo e a primeira ideia que aparece é a psicoterapia”.

Para a psicóloga, a principal questão é refletir sobre o que entendemos como psicoterapia. “Ela tem sido entendida como um caminhar de duas pessoas. E o sofrimento humano tem sido classificado como patologia. Assim, é visto como um problema que tem nome e tratamento. Mas precisamos fazer reflexões sobre isso”.

Assim, de acordo com Denise, a psicoterapia não pode focar no indivíduo. “A anorexia, por exemplo, não atinge pobres e nem existia antigamente. Então, não é só uma doença que atinge uma determinada pessoa. E a psicoterapia não pode pensar só na pessoa em isolamento, no espaço fechado do consultório. O sofrimento não é só produto dela, da sua história de vida, de seu mundo interior, mas também da sociedade. Hoje, vivemos no limite, sem tempo de lazer, com o trabalho ocupando a maioria do tempo”.

Sem seguida, ela apresentou a pesquisa “Mujeres sin voz”, em que trabalha na Universidade da República. O trabalho se dá com mulheres que seriam invisibilizadas na sociedade, como prostitutas e dependentes químicas. Segundo Denise, o projeto traz uma reflexão sobre elementos já consagrados em psicoterapia.

“Temos refletido sobre o silêncio na psicoterapia. O silêncio da escuta é muito importante, mas será que todos o aproveitam? Ou as pessoas mais fragilizadas veem nosso silêncio como abandono? Será que nossa prática, desenvolvida para o bem-estar do outro, realmente ajuda ou provoca abandono?”, questionou.

Foto do público da conferência de Denise Defey.

Foto da conferência de Denise Defey.

Denise Defey convidou todos os terapeutas a “saírem das poltronas”, “no mundo em que vivemos, pensar que os problemas das pessoas têm origem só em suas vivências não é só cientificamente errado, é ser cúmplice das injustiças do mundo”.

Outro ponto pensado por ela é a identificação de quem precisa de psicoterapia. Ela mostrou uma foto de um enterro de um bebê na Bolívia e refletiu sobre ela. “Na Bolívia, a mortalidade infantil é muito grande. No caso de morte de uma criança, quem mais precisa da nossa ajuda? A resposta da psicoterapia é sempre, primeiro, ‘a mãe’ e, segundo, ‘o pai’. Mas, nessa foto, vemos os pais com rostos mais fortalecidos e os irmãos do bebê muito fragilizados. Ou seja, temos que desenvolver um olhar atento para quem precisa mais de nós. E temos que avaliar o que temos para oferecer”. Denis explicou que foi a partir daí que surgiu a ideia da “clínica da vulnerabilidade e do desamparo”, que tenta reescrever o que é psicoterapia.

De acordo com a conferencista, o conceito de psicoterapia é muito associado aos ideais da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. “Ela é entendida como espaço de liberdade, ou seja, libertação. Mas será que todas as pessoas querem ser livres? E quão livres são os terapeutas para se separar da ortodoxia e criar?”. Sobre a igualdade, ela questionou a “isenção” dos próprios terapeutas. “Os preconceitos e a discriminação social impregnam a nossa prática clínica”. Enfim, sobre a fraternidade, a psicóloga ressaltou as disputas de poder entre os psicoterapeutas e a falta de questionamento aos efeitos e valores implícitos no poder em si.
Denise acrescentou ainda mais um valor associado à psicoterapia: a verdade. “Em primeiro lugar, há verdades intoleráveis a alguns pacientes, como crianças abusadas sexualmente. Em segundo, a mentira faz parte da vida em sociedade, nós é que não sabemos lidar com ela. Em terceiro, que verdade seria essa? A do terapeuta?”.

Assim, a psicóloga finalizou convidando todos os terapeutas a “saírem das poltronas”, No mundo em que vivemos, pensar que os problemas das pessoas têm origem só em suas vivências não é só cientificamente errado, é ser cúmplice das injustiças do mundo”.

Texto e Fotos: Bárbara Skaba

21 de julho de 2009