Debate sobre prevenção ao suicídio concentra psicólogas (os) e estudantes na Baixada

Categoria(s):  Notícias, SAÚDE, SUBSEDE BAIXADA   Postado em: 29/09/2016 às 11:11

nova-iguacu-4Para marcar a importância da campanha “Setembro Amarelo de prevenção ao suicídio”, o CRP-RJ promoveu, no dia 22 de setembro, na Cruz Vermelha de Nova Iguaçu, a 22ª edição do Rodas e Encontros para debater “Vamos falar sobre Prevenção ao Suicídio?”.

O encontro foi aberto pela coordenadora da Comissão Gestora da Baixada, Mônica Valéria Affonso Sampaio (CRP 05/44523) e pela conselheira-presidente da Comissão Intergestora de Regionalização e Descentralização (CIRD) do CRP-RJ, Vanda Vasconcelos Moreira (CRP 05/6065).

Vanda ressaltou que o “Setembro Amarelo é uma campanha mundial de conscientização sobre a prevenção do suicídio, com o objetivo direto de alertar a população a respeito da realidade do suicídio no Brasil e no mundo e suas formas de prevenção. Há uma atenção especial no dia 10 de setembro, pois é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio”.

Em seguida, Igor Soares do Nascimento, estudante de Psicologia na Estácio – Campos Nova Iguaçu, colaborador do CRP-RJ, representante da Cruz Vermelha de Nova Iguaçu e proponente do evento, destacou a importância de “não deixar o debate sobre a prevenção ao suicídio apenas para o mês de setembro, mas que ele seja continuado ao longo do ano”.

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Igor Soares, proponente do evento, e Vanda Vasconcelos

Érika Barbosa de Araújo (CRP 05/50040), psicóloga e integrante da Comissão Gestora, foi a mediadora do debate, que teve a participação das (os) psicólogas (os) Celso de Moraes Vergne (CRP 05/27753), doutor em Psicologia Clínica, e Andris Cardoso Tibúrcio (CRP 05/17427), conselheira-presidente da Comissão de Saúde do CRP-RJ durante a Gestão 2013-2016.

Debate

Andris iniciou o debate exibindo um breve, porém impactante, vídeo feito por uma adolescente norte-americana chamada Amanda Todd pouco antes de cometer suicídio. “Precisamos pensar nesse tema todos os dias, pois ele é uma questão de saúde pública”, afirmou Andris.

A seguir, a psicóloga apresentou importantes dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) referentes ao suicídio no mundo. Segundo a OMS, houve cerca de 800 mil suicídios registrados no ano de 2015 pelo mundo, 75% deles vindos de países de média e baixa renda. “O número é alarmante: são, em média, 2.200 suicídios que acontecem por dia no mundo”, destacou.

Andris apontou também dados relativos ao índice de suicídio em nosso país. “O Brasil ocupa a 8ª posição no ranking mundial de incidência de suicídio. A cada 45 minutos, um brasileiro morre de suicídio. Por isso, repito que esse é um caso grave de saúde pública”. Para ela, “é preciso sensibilizar os espaços de saúde pública sobre essa temática e, como profissionais de saúde, devemos enfatizar a importância da prevenção para os casos de suicídio, pois cerca de 90% dos casos de suicídio poderiam ser evitados”.

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Mesa de debates (da esq. para dir.): Celso, Erika e Andris

“Em uma sala com 30 pessoas”, acrescentou a psicóloga, “ao menos 5 delas já pensaram em se suicidar”. Andris também enfatizou que a população LGBT é, percentualmente, a mais vulnerável em casos de suicídio porque, conforme lembrou, “é uma população historicamente marginalizada, subempregada, não aceita pela família e pela sociedade”.

Celso, por sua vez, propôs uma reflexão sobre o papel da (o) psicóloga (o) no acolhimento a situações que envolvam riscos de suicídio. “Temos imensas dificuldades, em nossa formação acadêmica, em falar sobre a morte. Parece que nós, psicólogos, temos medo de falar sobre isso, é como se não soubéssemos falar sobre isso”.

Em sua avaliação, a ocorrência do suicídio apresenta importantes correlações com o momento social na contemporaneidade. “Eu entendo esse aumento do número de casos de suicídio como a ponta de um iceberg de uma sociedade que produz silêncio, que produz dificuldade de pertencimento”.

“Muitas pessoas não vão chegar no ponto de cometer um suicídio, mas vão desenvolver depressão, diabetes, neurose ou paranoia porque vivemos numa sociedade extremamente agressiva. Um certo número dessas pessoas está aqui em cima, na ponta do iceberg, cometendo suicídio. O restante está aqui na base, morrendo em vida. Que tipo de sociedade é essa que produz morte o tempo todo?”, questionou o psicólogo.

Celso teceu críticas à atuação psi no acolhimento às diferenças dos sujeitos. “A Psicologia é historicamente chamada para dar conta daquilo que é diferente e trazer para uma certa linha de normalidade. A criança, por exemplo, que não se comporta bem na escola vai ser encaminhada para um psicólogo para voltar a ser uma pecinha de engrenagem naquele ambiente”.

Para ele, a Psicologia precisa exercitar sua escuta qualificada para acolher o sujeito dentro da singularidade de seu sofrimento. “A nossa capacidade de escuta precisa estar pronta para ouvir aquilo que aparentemente é estranho e que nós, muitas vezes, passamos por cima sem dar a devida atenção. Como tratamos dos pacientes que passam por nós? Trazendo-os para a norma e para o padrão civilizatório que produz morte ou estamos, de fato, dispostos a escutar aquela pessoa, aquela história de forma inteira, completa?”.