Debate sobre a produção da queixa escolar encerra primeiro dia do evento

Categoria(s):  EDUCAÇÃO, MEDICALIZAÇÃO, Notícias   Postado em: 27/05/2015 às 10:53

educa 6A última atividade do primeiro dia do I Seminário Psicologia nas Escolas foi a mesa de debates “A produção da queixa escolar” mediada pela psicóloga supervisora do Ensino Fundamental II da Escola Sá Pereira e colaboradora da COMPSIEDUC do CRP-RJ Mariana de Araújo Fiore.

Os palestrantes dessa mesa foram Claudio Peixoto (CRP 05/9571), psicólogo, professor da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro e professor/pesquisador da Universidade Severiano Sombra, de Vassouras, Marina Sodré (CRP 05/32061), psicóloga da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME) e atuante no PROINAPE (Programa Interdisciplinar de Apoio às Escolas Municipais) e Katia Aguiar (CRP 05/5549), psicóloga e professora associada do Departamento de Psicologia da UFF.

Abrindo a mesa, Mariana afirmou a importância de pensarmos em como se pode trabalhar no espaço escolar dentro da perspectiva daquilo que é produzido na escola por professores, alunos e seus familiares.

Iniciando o debate, Cláudio compartilhou sua experiência no atendimento de crianças e adolescentes encaminhados pela escola. “Houve um momento em que me dei conta de que havia escolas em que 43% dos alunos haviam sido encaminhados. Daí, me perguntei: onde, de fato, está o problema? Foi assim que começamos a pesquisar e a buscar saber o fundamento desses encaminhamentos e descobrimos que grande parte dos diagnósticos que estavam sendo dados na escola não possuíamos embasamento adequado”.

O psicólogo falou também do quadro de desvalorização dos professores em âmbito não apenas financeiro, mas também desvalorização de suas potências e de suas capacidades de criar soluções e resolver os problemas do espaço escolar. Para ele, “os professores têm cada vez menos espaço na instituição para se perceberem como sujeitos capazes. Então, eles acabam incorporando a ideia de que não são capazes de resolverem os problemas da escola. Esse é o grande nó que precisamos de algum jeito desatar”.

“Quando a gente fala em queixa escolar, essa palavra traz consigo um descomprometimento sobre aquilo de que estamos nos queixado. Nosso objetivo é devolver esta queixa aos sujeitos que a estão fazendo, envolvendo-os em sua solução para que possam perceber que possibilidades eles têm de resolver esse problema”, destacou.

Cláudio criticou ainda as avaliações psicológicas feitas na escola, as quais, muitas vezes, não levam em consideração as potencialidades do sujeito, mas apenas suas falhas e dificuldades. “Os desejos desses sujeitos avaliados são deixados de lado e, assim, a escola acaba utilizando para todos os mesmos procedimentos que utiliza com outras crianças que efetivamente necessitam de uma atenção diferenciada”.

Marina, por sua vez, enfatizou que a produção da queixa escolar começa fora da escola. “Podemos dizer isso de várias maneiras, indicando, por exemplo, que a escola não é uma ilha, isolada do restante da sociedade. Talvez isso seja óbvio, mas é sempre preciso lembrar que, para entendermos a queixa escolar, é preciso que nos interroguemos sobre nossa época e sobre as subjetividades que ali se produzem”.

“Para além disso”, acrescentou, “é preciso entender que, quando o professor se queixa do aluno, ele também está adoecendo. Os impasses da escola têm a ver com a nossa época, com a nossa sociedade. A queixa escolar é formada a partir de um incômodo, de um problema, e esse problema acaba tornando-se sinônimo de um suposto fracasso da educação”.

Kátia iniciou sua fala afirmando que “a lógica medicalizante e psicologizante atravessa vários campos de nossa sociedade e, hoje, é muito comum encontrarmos, inclusive, psicólogos sociais com esse olhar individualizante e culpabilizador. Então, atuar no campo do social ou não atuar no campo do social não garante que esse olhar não esteja presente em nossas práticas”.

Ainda segundo Kátia, não podemos olhar para a escola, para as crianças em processo de escolarização, para os professores e inclusive para nós mesmos, como psicólogos, fora do contexto atual que nos atravessa.

A professora da UFF questionou a centralidade que os supostos problemas de aprendizagem têm no cotidiano da escola. “Essa questão ganha outro contorno, outra cor, quando pensamos não mais em problemas de aprendizagem, mas nos processos de escolarização como um todo. É preciso não olhar individualmente um problema de aprendizagem, mas entendê-lo a partir dos processos de escolarização, que podem envolver ou não problemas de aprendizagem”.

Maio de 2015