CRP-RJ promove mesa redonda sobre suicídio marcando o Setembro Amarelo

Categoria(s):  Notícias, SAÚDE   Postado em: 18/10/2017 às 11:40

A Comissão de Saúde do CRP-RJ realizou, no dia 29 de setembro, na sede do Conselho, na Tijuca, a mesa redonda “Suicídio: vamos falar sobre isso?”. Os palestrantes Andrea da Silva Vilanova (CRP 05/20181), doutora em Psicologia Clínica, coordenadora clínica do Programa de Atenção à Saúde Mental do Estudante (IPUB-UFRJ) e supervisora do CAPS AD III Paulo da Portela, e Fernando Gastal de Castro (CRP 05/45674), mestre em Psicologia e em Sociologia, doutor em Psicologia e pós-doutor em Psicologia do Trabalho, foram os convidados para o evento que teve o objetivo de debater os conhecimentos produzidos sobre a temática do suicídio, compartilhando discussões, práticas e experiências de cuidado.

Promovido dentro do mês temático “Setembro Amarelo”, campanha internacional para mobilizar o debate sobre o suicídio, a mesa redonda começou com as boas-vindas da conselheira presidente da Comissão de Saúde, Rita Louzada (CRP 05/11838), que ressaltou a importância de fomentar o debate sobre o suicídio.

Andréa Vilanova trouxe sua experiência de trabalha sobre a questão do suicídio no meio universitário, no qual, segundo ela, há uma exacerbação da resposta urgente. “O que notamos é que há uma necessidade de uma resposta cada vez mais urgente e imediata. A exacerbação dessa política neoliberal, que traz essa ideia de soluções rápidas e acessíveis, é contrária à experiência subjetiva. As emoções nos colocam a questão de como vamos lidar com isso que não é acessível de uma forma mais pragmática. A satisfação não poder ser comprada com dinheiro”.

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Da esq. para dir.: Rita, Fernando e Andrea

“Na Atenção à Saúde Mental do Estudante, o foco é pensar essa questão do sofrimento psíquico do estudante. O que percebemos é que, apesar de estarmos há quase 30 anos de Reforma Psiquiátrica e termos uma ampla rede de apoio psicossocial, a demanda inicial ainda é por uma medicalização, por remédios. Qualquer nível de sofrimento psíquico a resposta imediata esperada é a de medicalização do sofrimento. E nossa aposta como equipe de trabalho é fazer o contraponto a isso”, explicou Vilanova.

“Nós procuramos mostrar que existem outros caminhos para lidar com o sofrimento que não passa pela medicação. E nós temos ainda um dado preocupante: diversas tentativas de suicídio acontecem justamente devido ao uso excessivo de medicamentos”, concluiu.

Fernando Gastal de Castro abordou o problema do suicídio no meio laboral, resgatando inclusive uma realidade do Brasil colonial, onde o trabalho escravo era a principal mão-de-obra. “O mundo do trabalho vive uma regressão profunda, no qual a precarização das leis trabalhistas gera subcontratações e subempregos que fomentam trabalhos análogos à escravidão. Por isso, trago aqui a analogia com o ‘banzo’, sentimento experimentado pelos escravos que se sentiam despatriados e totalmente desconectados de suas raízes. Eles experimentavam uma melancolia profunda que rompia com os frágeis laços sociais que tinham e isso levava a uma desistência de comer e de viver, ou seja, uma forma de suicídio”, explicou.

“O neoliberalismo é uma regressão civilizatória na qual experimentamos uma destruição criativa. Os avanços tecnológicos não se traduzem em melhoria de vida, pelo contrário, reforçam ainda mais o mal-estar contemporâneo. Nesse contexto, as relações de trabalho viram hipercompetitivas e hiperindividualistas, levando ao rompimento dos laços sociais. O colega de trabalho não é mais sua equipe e, sim, seu inimigo. O indivíduo se vê impelido a conquistas solitárias diárias, procurando ser além do satisfatório, pois ser só satisfatório não basta. É a ditadura do flexível, a pessoas tem que saber fazer de tudo e muito bem. É o reino da meritocracia”, pontuou o psicólogo.

 

O debate teve transmissão ao vivo e on-line pelo canal do CRP-RJ no Youtube e está disponível para ser assistido clicando aqui.