Campanha “Todo racismo é uma forma de violência. BASTA!” é lançada no CRP-RJ

Categoria(s):  Notícias, RELAÇÕES RACIAIS   Postado em: 01/04/2019 às 12:46
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Da esq. para a dir.: Cristiane, Elizabeth e Simone

No dia 19 de março, no auditório do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, ocorreu uma roda de conversa para o lançamento estadual da campanha “Todo racismo é uma forma de violência. BASTA!”, organizada pelo Eixo de Relações Raciais da Comissão Regional de Direitos Humanos do CRP-RJ.

O evento fez parte de uma agenda nacional do Sistema Conselhos de Psicologia que, por meio desta campanha, visa a evidenciar a Resolução CFP nº 018/2002, que estabelece normas de atuação para profissionais da Psicologia em relação ao preconceito e à discriminação racial.

A roda contou com três palestrantes mulheres de etnias diversificadas, sendo uma representante indígena, uma quilombola e uma cigana. A atividade integrou também a agenda da campanha “21 Dias de Ativismo Contra o Racismo” – que ocorreu no período de 7 a 27 de março de 2019.

Quem deu inicio à roda de conversa foi Simone da Conceição, moradora do Quilombo Santa Isabel e Santa Justina, no município de Mangaratiba. Ela ressaltou a importância do espaço proporcionado pelo evento no sentido de dar voz às mulheres quilombolas. “Nós quase não temos essa oportunidade”, revelou ela, apontando também o descaso do poder público para com a comunidade quilombola.

Segundo ela, falta o básico na comunidade, como luz, saneamento, escola e segurança. São constantes as ameaças de desapropriação de um território valorizado, bem como ameaças de morte. A palestrante revelou também que, por ausência do Estado na região, o povo fica sem políticas públicas fundamentais e concluiu: “Dizem que a escravidão acabou, mas, para gente, não acabou, não”.

Em seguida, foi a vez da Elisabeth Martinho de Araújo, de origem cigana ‘Kalde Racha’, que se intitulou uma “representante não-oficial” por não seguir algumas tradições do seu povo, como a de não ser permitido que as mulheres estudem. Ela seguiu os estudos e se tornou professora, e, por isso, foi discriminada dentro da própria comunidade cigana.

A partir do vídeo “Sou Cigano. Sou Brasileiro. Não sou Trapacerio”, Elizabeth falou sobre a existência de uma visão distorcida que a sociedade, de um modo geral, tem de seu povo: imagem atrelada à ideia de criminalidade, trapaça ou desonestidade. Concluiu afirmando que “uma definição discriminatória gera discriminação”.

Por fim, Elizabeth falou da ausência de políticas públicas aos ciganos, dando destaque ao fato de serem uma população em deslocamento e, portanto, não se fixarem em um território. Conforme revelou, “o lema de pertencimento ao mundo para o povo cigano é: ‘Minha pátria é onde meus pés estão'”. “O Estado sequer sabe quantos somos. Não consegue dar conta de um povo em deslocamento. A população conseguiu ser contabilizada pelo Bolsa Família, única política pública a que tiveram acesso”, afirmou.

IMG_6378Na sequência, a roda de conversa teve a contribuição de Cristiane Carla Pantoja Santos, ativista indigenista. Ela considerou a necessidade de um resgate da história dos povos indígenas, citando como exemplo a história de regiões como o Cais do Valongo que, do seu ponto de vista, foi contada de forma invertida, falando inclusive da existência anterior na Pequena África de aldeias indígena dizimadas. Ela também denunciou o aumento significativo do assassinato de mulheres e crianças indígenas nos últimos meses.

Cristiane falou da união, no passado, dos povos negros e indígenas. “Lá atrás, nós nos demos as mãos para salvar o que temos hoje em dia; então, lá atrás, houve a fusão ‘afro-indígena’”. E finalizou, pedindo uma nova união para que os povos que sofrem o racismo na pele sejam ouvidos.

Após a fala de cada palestrante foi aberto o debate entre os participantes, concluindo que a Psicologia tem muito a aprender com os povos originários e tradicionais a partir da escuta da realidade de cada grupo étnico.

SOBRE A CAMPANHA DO SISTEMA CONSELHOS DE PSICOLOGIA

Lançada pelo Conselho Federal de Psicologia em novembro do ano passado, em São Paulo, durante o Seminário “Todo racismo é uma forma de violência: reflexões sobre o racismo, políticas públicas e Direitos Humanos”, a campanha “Todo o Racismo é um Forma de Violência. BASTA!” tem como foco pautar, em âmbito nacional, o debate sobre as diversas manifestações de racismo e sua interface com a atuação da (o) psicóloga (o).

SOBRE A CAMPANHA 21 DIAS DE ATIVISMO CONTRA O RACISMO

Em seu terceiro ano, a campanha “21 Dias de Ativismo Contra o Racismo” compreende um conjunto de ações intersetoriais e eventos realizados em todo o estado do Rio para debater os efeitos do racismo e conscientizar a sociedade em geral sobre formas de combate a essa problemática. Desde 2017, o CRP-RJ apoia e participa ativamente das atividades relacionadas a essa mobilizações.