O Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro – CRP-RJ, por meio de seu Eixo de Políticas para Mulheres, em parceria com a Comissão Gestora da Subsede Norte Noroeste, promoveu para as(os) psicólogas, psicólogos e, estudantes de psicologia o evento “Violência de gênero e seus atravessamentos na Região Norte-Noroeste Fluminense”.
A atividade foi realizada presencialmente no dia 8 de novembro, no auditório do Edifício Connect Work Station, onde fica localizada a nova subsede de Campos. O evento foi o primeiro a ser realizado depois da abertura da subsede norte/noroeste que ocorreu no dia 22 de setembro de 2023.
A abertura do evento foi realizada pela coordenadora da Comissão Gestora Norte Noroeste, Carla Meirelles (CRP 05/42300) que falou sobre o cuidado que se precisa ter com a mulher violentada e sobre a importância da rede de apoio que elas precisam ter após sofrer a violência.
Mesa 1A mesa inicial foi composta por Conceição De Maria Gama Carvalho Mathias (CRP 05/39882), coordenadora da Comissão Regional de Direitos Humanos do CRP-RJ, do eixo de Políticas para as mulheres e integrante da Comissão Gestora Norte Noroeste que apresentou em sua fala o tema “O trabalho invisível das mulheres na economia do cuidado”, tema esse que também foi abordado no primeiro dia de prova (5/11) do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio. Conceição falou sobre interseccionalidade nas experiências de vida das mulheres que acentuam ou diminuem as violências enfrentadas individualmente, ou coletivamente, sejam elas classe, raça, etnia, orientação sexual, território, deficiências, entre outras. “O trabalho do cuidado, é um trabalho socialmente invisibilizado, sendo realizado geralmente de forma não-remunerada e em sua maioria exclusivamente por mulheres. Esse cuidado na nossa sociedade não é considerado um trabalho. E sim, um ato de amor e um dom da mulher, uma lógica estratégica para fazer a mulher acumular cada vez mais jornadas exaustivas e adoecedoras”, falou a conselheira sobre cuidado.
Luciana Caldas (CRP 05/35298) com o tema “Violência de gênero no SUAS: Relato de experiência no CREAS de Conceição de Macabu”. A psicóloga falou de casos que surgem nos CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social, violação, retorno a maternidade, violação de gênero, ações desenvolvidas pelo CREAS e resoluções que orientam a categoria sobre a violência de gênero (Resolução CFP N.º 001/99 – estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da Orientação Sexual; resolução CFP N.º 018/2002 – estabelece normas de atuação para psicólogos em relação ao preconceito e à discriminação racial; resolução CFP N.º 001/2018 – estabelece normas de atuação para psicólogas e psicólogos em relação às pessoas transexuais e travestis; resolução CFP N.º 006/2019 – orientações sobre elaboração de documentos escritos produzidos pela(o) psicóloga(o) no exercício profissional; resolução CFP N.º 008/2020 – estabelece normas de exercício profissional da psicologia em relação às violências de gênero; referências técnicas para a Prática de Psicólogas (os) no Centro de Referência Especializado da Assistência Social — CREAS; referências técnicas para atuação de psicólogas (os) em Programas de Atenção à Mulher em situação de Violência). “É um risco sair de licença maternidade, retornar ao trabalho e perder o emprego ou cargo, como se tivéssemos seis meses em casa fazendo nada além de descansar”, comentou.
Pamella Duarte (CRP 05/43478), falou sobre o tema “Como a mulher vítima de violência é atravessada pelo sistema de justiça no estado do Rio de Janeiro”. Pamella relatou sobre como as mulheres atravessadas por violências como obstétrica, virtual, sexual, entre outras, chegam ao sistema de justiça. A psicóloga também falou sobre alienação parental, violência psicológica e institucional e agentes violadores.
Tamillys Lírio (CRP 05/49444) seguiu com o tema “Protagonismo feminino nas respostas às vulnerabilidades e violências nos territórios de favelas e periferias em Campos dos Goytacazes”. A psicóloga falou sobre a experiência de vida com os movimentos sociais, citando a ONG NBR – Nação Basquete de Rua, voltada para o fortalecimento dos direitos das pessoas de favelas e periferias, e o quê esses movimentos fazem para dar apoio a mulher ou aos filhos que também são alvo de violência. “Hoje eu estou viva porque os movimentos sociais me salvaram um dia”, falou.
Apresentação de trabalhos
As(os) estudantes tiveram a oportunidade de espaço e voz na apresentação de seus trabalhos. A mediação da mesa ficou com Cleide Neves (CRP 05/40812), psicóloga e também integrante da Comissão Gestora local, que iniciou sua fala destacando o protagonismo dos estudantes da região Norte e Noroeste Fluminense e a aproximação do Sistemas Conselhos às universidades além de agradecer a participação ativa deles no evento. “Agradeço aos estudantes pelos trabalhos submetidos e aos orientadores pelo incentivo em transformar cada vez mais a academia no lugar de produção de conhecimento, pesquisa e prática. Certamente teremos ótimos profissionais atuando aqui na região.”
“Os tipos de violência contra a mulher e a importância desse tema”, por Rafael Moraes que questionou sobre o papel do homem na luta contra a violência.
“A violência existe, muitas mulheres não reconhecem e não sabe que vale além de só violência física e que o ‘jeito de ser’ do parceiro, está errado”.
“O silenciamento político de mulheres sobreviventes a abusos sexuais na infância”, por Beatriz de Almeida Sales falou sobre sua pesquisa, onde não focou apenas em dados para sustentação teórica, mas também mostrar a quebra do silêncio sobre esses casos.
“A violência sexual é culturalmente silenciada não apenas no que tange a denúncia, que às vezes nem acontece, mas também no testemunho. As mulheres não ficam a vontade em falar sobre violência sexual.”
“A colonialidade nas práticas de violência obstétrica” por Thayná Bernardo, falou em seu trabalho sobre os direitos iguais e definiu a violência obstétrica. “Violência obstétrica é a omissão e abuso em diferentes níveis direcionadas a mulher durante a gestação, o parto, o puerpério e nos casos de abortamento. Essa violência também se configura como uma violência de gênero e institucional, sendo praticada por médicos, enfermeiros e administrativos.”
“Mulher negra nenhuma aguenta”: culpabilização das famílias no campo da saúde mental, por Paula Santos, Caio Rezende, Thalles Almeida, Hellen Guimarães e Mariana Figueiredo. Quem representou o grupo foi Hellen que trouxe as experiências nos estágios que o grupo teve, que foram base para o trabalho.
“Uma das premissas sobre a reforma psiquiátrica é o cuidado da dignidade e liberdade, que geram demandas específicas e multidimensionais que precisam de agentes sociais como a familiar cuidadora, sendo o foco do nosso trabalho”.
“Violência de gênero: a jornada do sistema de saúde e justiça” por Lia Ribeiro e Leonardo Felizardo. Leonardo representou a dupla falando sobre a vivência do estágio que trouxe a tona a gravidade do problema, a partir de dados que confirmam que a violência de gênero só aumenta.
“Para resolvermos um problema, precisamos aceitar que ele existe. A visão de muitos homens é acreditar que essa violência de gênero não existe, e estatisticamente falando, uma a cada 3 mulheres já sofreram algum tipo de violência no mundo.”
“Violência contra a mulher: uma escuta infamiliar” por Isabella Maria, falou sobre as escutas clínicas, individuais e pelo acompanhamento terapêutico.
“Todas as mulheres do estudo tem um ponto em comum que foi a violência amorosa. Ficou muito nítido ao longo dos anos de como os mecanismos da sociedade são muito cruéis, como o fato da branquitude que legitima o privilégio branco e também essa pressão que gera sofrimento e angustia nas mulheres negras e trans.”
“A sexualidade negada às mulheres negras enquanto prática da institucionalização” por Esthefany Soares e Paula Santos. Paula representou a dupla baseado na experiência do acompanhamento terapêutico de uma mulher preta que ficou 15 anos hospitalizada em manicômios.
“A sexualidade dela era sempre posta como uma questão. Isso vem muito do racismo sendo fruto de uma violência de gênero. O controle sob seus corpos pretos é sempre imposto pela sociedade e pelo sistema.”Após as apresentações dos trabalhos, a atividade foi finalizada com apresentação cultural de Simone Pedro, cantora, cientista social formada pela Universidade Estadual do Norte Fluminense e especializada em literatura, memória cultural e sociedade pelo Instituto Federal Fluminense. A cantora é escritora e produtora cultural, já esteve à frente de vários projetos que envolvem a história e a cultura popular afro-brasileira, sobretudo o samba e a literatura produzida por mulheres. Simone esteve acompanhada de João Leal em seu violão.