No dia 6 de junho, o Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ), por meio da Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnicos Raciais realizou o evento “Psicologia na Contra-Colonialidade no Norte-Noroeste Fluminense”, para profissionais e estudantes de Psicologia.
O encontro foi realizado na UNIVERSO, localizada na Avenida Vinte e Oito de Março, 856 – Parque Dom Bosco, em Campos dos Goytacazes. A atividade foi também um evento preparatório para o 12º Congresso Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, que ocorrerá em 2025.
O evento foi um espaço de diálogo e reflexão sobre o racismo e a importância da Psicologia na contra-colonialidade. As(os) participantes apresentaram diferentes perspectivas e experiências sobre o tema, demonstrando a complexidade da questão racial no Brasil e a necessidade de continuarmos a lutar por igualdade e justiça social.
Para acompanhar na íntegra como foi o evento, acesse o canal oficial o do CRP-RJ no YouTube @realCRPRJ.
Mesa de Abertura Institucional
O evento foi apresentado pelo psicólogo Marwyn Soares de Souza (CRP 05/65099), colaborador da Comissão Gestora do Norte Noroeste Fluminense, Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnicas e Raciais, e integrante do Eixo de Práticas Anticapacitistas que compõem a Comissão de Direitos Humanos do CRP-RJ.
A mesa de abertura institucional foi composta por Viviane Martins (CRP 05/32170), vice-presidenta e colaboradora da Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnico-Raciais do CRP-RJ, Viviane Oliveira, coordenadora de curso de Psicologia da Faculdade UNIVERSO unidade de Campos, Yvanna Brito (CRP 05/66298), colaboradora da Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnico Raciais, Comissão de Instrução e Comissão Gestora da Subsede Baixada Fluminense do CRP-RJ, Mykaella Moreira dos Anjos, graduanda em Psicologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, colaboradora da Comissão Especial de Eventos do CRP-RJ e Carla Meireles (CRP 05/42300), coordenadora da Comissão Gestora Norte-Noroeste, e teve como objetivo apresentar o tema abordado no evento, Psicologia e colonialidade.
O apresentador Marwyn Soares de Souza explicou a construção do cartaz do evento, trazendo a arte para pensar diversas raças. O psicólogo também leu um texto onde discute a necessidade de repensar como o Brasil lida com as relações Étnicas e Raciais. Um país onde a soberania da raça vigorou, marcando um processo de escravidão, genocídio e diversas formas de extermínio da vida, perpetrados pelos colonizadores. O texto lido questiona como o Brasil se relaciona com as questões raciais e propõe uma reavaliação da Psicologia, buscando entender como ela pode contribuir para desconstruir a colonialidade e promover a igualdade social.
A vice-presidenta do CRP-RJ, Viviane Martins, falou sobre a importância da regionalização do Conselho, realizando eventos em diferentes cidades do estado com a mesma capacidade dos que são feitos na capital. A descentralização é um dos focos da atual gestão do Conselho, e este evento foi o terceiro realizado na região norte-noroeste em 2024. A vice-presidenta também é colaboradora da Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnico-Raciais do CRP-RJ e apontou também que a discussão sobre Psicologia e relações étnico-raciais é fundamental para a profissão e para a sociedade como um todo. Ela ressaltou também que mais da metade da população brasileira, em torno de 56%, se considera negra e parda e consequentemente é essa população que chegará para ser atendida nas políticas públicas ao qual a Psicologia está inserida. Portanto, é essencial que a Psicologia seja capaz de lidar com as questões raciais que a atravessa todos os dias.
Viviane Oliveira, coordenadora de curso de Psicologia da Faculdade UNIVERSO, mencionou que o curso é novo, ainda em fase de construção, e está em seu 7º período. Ela demonstrou entusiasmo em relação à aproximação do curso com o CRP-RJ e relatou a importância de debater o tema.
A coordenadora da Comissão Gestora Norte-Noroeste, Carla Meireles, destacou a importância da Comissão Gestora e sua atuação no estado desde 2009, buscando aproximar o CRP do interior do estado. Ela apresentou o mapa da abrangência da comissão, incluindo as cidades com pontos focais da comissão e enfatizou que o CRP está buscando descentralizar o trabalho do Conselho, realizando eventos em diferentes regiões e contribuindo para ampliar o debate sobre a profissão e o território.
Mykaella Moreira, estudante de Psicologia e colaboradora da Comissão Especial de Eventos do CRP-RJ, reforçou a importância da descolonização de saberes e prática para que se possa pensar a história e a política de cada território, entendendo como se dá a contra-colonialidade. A colaboradora em sua fala também destacou a 17ª Mostra Regional de Práticas em Psicologia, espaço onde estudantes e psicólogas(os) podem apresentar suas práticas e reflexões sobre a Psicologia, organizada pela Comissão de Eventos que será realizada nos dias 1, 2 e 3 de agosto na UERJ, no bairro do Maracanã, no Rio de Janeiro. Para saber mais sobre a 17ª Mostra Regional de Práticas em Psicologia acesse http://www.crprj.org.br/site/mostra/
Yvanna Brito (CRP 05/66298), colaboradora da Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnico Raciais, aponto a regionalização do CRP-RJ, realizando assim eventos em diferentes cidades do estado com o objetivo de ampliar o debate sobre Psicologia e Relações Étnico-Raciais, atingindo um público mais diverso. A psicóloga falou sobre os dois últimos eventos realizados pela comissão Étnico Raciais e que haverá mais eventos sobre esse tema esse ano ainda, em outras regiões do estado.
Antes de encerrar a mesa, Viviane Martins, explicou o funcionamento do próximo COREPSI (Congresso Regional de Psicologia) e do CNP (Congresso Nacional de Psicologia), bem como suas fases (Ações de Mobilização, Pré-COREP, COREP seguido do CNP) e o processo eleitoral do sistema conselhos. O COREPSI e o CNP ocorrem a cada três anos, e a próxima edição será realizada em 2025. O COREPSI é composto por psicólogas(os) e estudantes que debatem propostas para serem levadas ao CNP onde serão debatidas e realizadas no próximo triênio da sucessiva gestão. A psicóloga afirmou a importância da participação das(os) psicólogas(os) e estudantes nesse processo coletivo e democrático de construção e implementação de políticas para a profissão. Durante o evento, todas(os) participantes puderam enviar suas propostas a partir de um formulário online.
Para saber mais sobre o 23º Congresso Nacional de Psicologia e suas etapas acesse https://cnp.cfp.org.br/12/
Mesa de abertura – A Psicologia na Contra-Colonialidade
A mesa de abertura levou o tema “A Psicologia na Contra-Colonialidade”, trazendo a discutir a Psicologia na contra-colonialidade, problematizando a história, a cultura e a política em diferentes contextos.
O palestrante convidado foi Diego Henrique Santos, graduado em Psicologia, mestre em filosofia na linha gênero, raça e colonialidade pela UFRJ, doutorando em filosofia, pós-graduado em história da África e da Diáspora Atlântica, licenciando em física, pesquisador, pesquisador do Laboratório X Encruzilhadas Filosóficas, membro da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), coordenador pedagógico em educação escolar quilombola, educação das relações étnico-raciais e educação para a diversidade da Secretaria de Educação Ciência e Tecnologia (Seduct) de Campo dos Goytacazes. Além disso, tem experiência com projetos sociais com povos indígenas, quilombolas e camponeses e na área de Psicologia, filosofia e educação com ênfase em filosofia do direito, filosofia política e políticas públicas.
Diego Henrique Santos falou sobre o termo “contra-colonialidade” para explicar que a luta contra a colonização é mais do que apenas a descolonização de si, mas sim uma resistência e uma auto-organização comunitária. Ele destaca o trabalho de Antônio Bispo, que coloca em questão o monoteísmo católico nas Américas e defende práticas politeístas. Para o psicólogo, a contra-colonialidade exige outros referenciais teóricos na Psicologia, tanto no campo teórico-metodológico quanto no diálogo com outras ciências e, na prática profissional.
Santos aponta que o Brasil é um país forjado pela colonização, e que a colonialidade do saber, do poder e do cuidado se reproduz em diversos âmbitos. Ele também destacou o embranquecimento do currículo de Psicologia, a necessidade de se discutir a formação racial brasileira e a importância de se pensar a Psicologia em relação aos saberes e práticas de diferentes culturas e grupos sociais.
Mesa 1 – Racismo institucional e saúde mental
Discutir o racismo institucional e sua influência na saúde mental, com foco em experiências em diferentes instituições e áreas da Psicologia, foi o objetivo da mesa1 sobre “Racismo institucional e saúde mental”.
Participaram desta mesa a psicóloga Cláudia Ferreira (CRP 02/19503), membro da Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnico Raciais do CRP-RJ, Erica Francisco Barreto, advogada, pós-graduanda em direito público, presidenta do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, idealizadora do coletivo mulheres negras do direito – Esperança Garcia, vice-presidente da comissão de igualdade racial da 12ª subseção da OAB – Campos, Luciene Lacerda (CRP 05/09715), graduada em Psicologia, doutoranda em educação, mestre em saúde coletiva, especialização em educação para a área de saúde e foi coordenadora do curso “Política Integral de Saúde da População Negra”, especialista em saúde do trabalhador e ecologia humana pelo centro de estudos em saúde do trabalhador e ecologia humana da Fundação Oswaldo Cruz e Priscila Oliveira, graduada em Psicologia, mestra em psicanálise, psicóloga da Fundação Municipal da Infância e da Juventude (FMIJ, alocada no Conselho Tutelar de Campos, e supervisora clínica.
Claudia Ferreira, membro da Comissão de relações Étnico-Raciais do CRP-RJ, trouxe a discussão sobre as leis e os conceitos que existem para combater o racismo, mas que, na prática, a situação é bem diferente. A psicóloga mencionou que o racismo institucional está presente em diversos âmbitos, como na saúde, na educação e no trabalho e destacou que o racismo é sutil e muitas vezes está presente em situações que não são nomeadas como racistas. Ela ainda argumentou que a psicologia muitas vezes reproduz o racismo, culpando o indivíduo em vez de questionar as estruturas que perpetram a desigualdade.
Passando por atos históricos feitos por movimentos negros ao qual participou desde jovem, a psicóloga Luciene Lacerda falou da importância desses relatos históricos para a luta contra o racismo. Ela também mencionou que a população negra é a que mais sofre com a mortalidade materna e a que menos tem acesso a recursos, como água encanada, acesso a hospitais e saneamento básico. A importância de ter mais pessoas negras na Psicologia também foi abordada pela idealizadora do movimento dos 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo.
A psicóloga do Conselho Tutelar de Campos Priscila Oliveira trouxe sua experiência na área. Ela destacou que o Conselho Tutelar é um espaço de grande vulnerabilidade para a população negra, e que a sua atuação tem sido marcada por inúmeras situações de racismo e violência. A psicóloga enfatizou também a importância de nomear as violências que sofrem as crianças negras e as famílias negras, e de entender que o racismo está presente em todas as esferas da sociedade, inclusive no sistema judicial. Ela fez uma reflexão sobre a necessidade de que a Psicologia comece a levantar a bandeira do racismo e comece a questionar os diagnósticos feitos sobre as crianças negras e suas famílias.
A advogada e presidenta do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, Erica Francisco Barreto, destacou a importância da interdisciplinaridade na discussão sobre racismo institucional e saúde mental. Sua fala ressaltou a importância de compreender o racismo institucional e estrutural e como ele opera em diferentes setores da sociedade. Érica destacou que, mesmo com a existência de leis antidiscriminatórias e ações afirmativas, o racismo institucional perdura e ainda é uma realidade presente. Ela enfatizou que a luta contra o racismo é constante e que a participação de todos é fundamental para construir uma sociedade mais justa e igualitária.
Mesa 2 – Família e infância nas relações étnico-raciais
A última mesa do evento, trouxe o tema “Família e infância nas relações étnico-raciais”, e levou as(os) palestrantes a discutir a importância do diálogo sobre as relações étnico-raciais na infância, desde a concepção e formação da subjetividade.
O mediador da mesa, Bruno Rosa, destacou a importância do diálogo sobre a relação étnico-racial e a necessidade de se tratar esse tema desde a infância, ressaltando que o debate sobre as relações étnico-raciais e a infância exige uma atenção especial desde o início da vida. Ele acredita que a construção de uma sociedade mais justa e igualitária depende de quebrarmos com os preconceitos e desigualdades que são impostos desde a infância.
Compuseram esta mesa Michelle Lino (CRP 05/33967), psicóloga no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, possui pós-doutorado, onde pesquisou sobre educação antirracista nas adoções inter-raciais, doutora e mestra em políticas públicas e formação humana e autora do livro infantil “Uma família café com leite: uma história sobre adoção inter-racial”; Yasmim de Menezes (05/45973), mestre em Psicologia pela UFRJ, psicóloga social do Projeto Ação Integrada: Resgatando a Cidadania, iniciativa que oferece atendimento psicossocial a pessoas resgatadas de trabalho escravo no Brasil, e colaboradora do Eixo de Políticas para Mulheres e do GT de Combate ao Trabalho Escravo do CRP-RJ; Luiz Henrique Gomes Moraes, assistente técnico administrativo da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e graduando em engenharia ambiental e na mediação Bruno Rosa (CRP 05/67901), membro da Comissão Especial de Psicologia e Relações Étnico-raciais do CRP-RJ.
A psicóloga no Tribunal de Justiça do RJ, Michelle Lino, iniciou sua fala trazendo um caso fictício de um casal de pretendentes à adoção brancos que tentaram adotar uma criança, porém, acabaram devolvendo-a ao abrigo tempos depois, pois a cor preta da criança começou a incomodá-los. A partir dessa história, a psicóloga trouxe à discussão o conceito de “pardo”, questionando a branquitude e como o racismo está presente na sociedade, inclusive por permitidas legalmente às (aos) adotantes a escolha de uma criança para adoção.
A colaboradora do CRP-RJ, Yasmim de Menezes, trouxe uma análise crítica sobre a branquitude, o trabalho escravo e as relações de poder que permeiam a sociedade brasileira. Ela destacou o conceito de branquitude, muitas vezes, se apresenta como uma norma invisível, naturalizando o racismo que está presente em diversos aspectos da vida. Em relação ao trabalho escravo, a psicóloga chamou atenção para a realidade da cidade de Campos dos Goytacazes, município com o maior número de pessoas resgatadas do trabalho escravo no Rio. Ela ressaltou que o trabalho escravo contemporâneo se caracteriza por uma relação de poder em que o outro é visto como inferior e menos digno, e que essa relação é naturalizada por quem escraviza. O marcador social da raça é fundamental para compreender essas relações. Comentou a definição do trabalho escravo segundo o Código Penal, quando há a presença de um destes fatores: condições degradantes de trabalho, servidão por dívida, jornada exaustiva e restrição de liberdade de locomoção. Abordou aspectos do trabalho escravo doméstico, que afeta principalmente mulheres pretas e pardas, trazendo elementos para reflexão sobre a história da infância pobre no Brasil.
Terminando as falas da mesa, o assistente técnico administrativo da UENF, Luiz Henrique Moraes, em sua fala, abordou a importância de desconstruir o colonialismo e suas influências nas relações sociais, abordando a questão da paternidade, o papel do Estado e o impacto da arte em nossa realidade. Para ele, a paternidade afetiva é fundamental, mas que ela não pode se sustentar sem direitos sociais e sem o reconhecimento do Estado, que tem sido negligenciado com a população negra, e que está presente em diversas áreas, como a educação, a saúde e a segurança. Luiz Henrique também mencionou a importância da arte para a descolonização para a consciência social e política. Através da música, do punk, do rap e do metal, artistas conseguem denunciar as mazelas da sociedade, o racismo, a misoginia, a homofobia, sem se preocupar em apresentar uma imagem “bonita” da realidade.
O CRP-RJ está preparando diversos eventos para a região Norte-Noroeste Fluminense, sempre abordando os assuntos que a categoria do território solicita. Aproximem-se das subsedes, dos pontos focais, queremos construir com vocês.
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