Primeiro evento preparatório para o VI COREP discute compromisso social e desafios para psicólogos

Categoria(s):  COREP, Notícias, SOCIOEDUCATIVO, SUBSEDE BAIXADA   Postado em: 31/01/2007 às 16:28

No último sábado, 27 de janeiro, o CRP-RJ realizou, na subsede de Nova Iguaçu, o primeiro evento preparatório para o VI Congresso Regional de Psicologia (COREP). Foram realizadas palestras e discussões em torno do tema “Do discurso do compromisso social à produção de referências para a prática: construindo um projeto coletivo para a profissão”, proposto pelo VI Congresso Nacional de Psicologia, que será realizado em junho deste ano. O evento contou também com a realização de oficinas e exibição de vídeos.

Primeiro evento preparatório para o VI Congresso Regional de Psicologia (COREP) realizou palestras e discussões em torno do tema “Do discurso do compromisso social à produção de referências para a prática: construindo um projeto coletivo
para a profissão”.

Participaram do evento em Nova Iguaçu Cynthia Campagnuci Ferreira, coordenadora das casas de passagem do programa de saúde mental de Paracambi; Francisca de Assis Rocha Alves, psicóloga do Centro de Atenção Familiar de Nova Iguaçu; Ana Maria Marques Santos, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e Elizabeth Pereira Paiva, professora de psicologia jurídica da Universidade Veiga de Almeida e psicóloga do Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Menor (CRIAM) de Nilópolis.

Durante a mesa de abertura, os psicólogos presentes foram informados sobre os eventos preparatórios e pré-Congressos que ocorrerão antes da realização do VI COREP, além de receberam orientações sobre o processo de eleições do Sistema Conselhos. Seguiu-se uma mesa redonda, que teve como mediador o conselheiro presidente da Comissão de Orientação e Fiscalização (COF), José Henrique Lobato, e discutiu as práticas e desafios no trabalho dos psicólogos.

Uma preocupação de todas as palestrantes foi o compromisso social da categoria e sua responsabilidade política. Cynthia Campagnuci destacou o caráter comercial que os manicômios tiveram na história de Paracambi e os desafios para a implantação de um modelo de tratamento baseado nas Casas de Passagem, cuja estrutura de vila e presença de “cuidadores” favorecem o bem-estar dos internos. Ela informou que, atualmente, o município tem dez casas com capacidade para abrigar 80 moradores: “Eles são assistidos 24 horas por dia e as casas devem, sobretudo, servir apenas de passagem aos moradores. Elas devem permitir que eles voltem aos seus municípios de origem”, disse a psicóloga.

As psicólogas Francisca Alves e Ana Maria Santos salientaram a falta de integração entre os conhecimentos teóricos aprendidos na universidade e a prática do trabalho cotidiano. Francisca, que falou sobre Psicologia Comunitária, afirma que o psicólogo costuma se impor como um título, e não como pessoa, no atendimento do dia a dia: “A Psicologia Comunitária não pode ser aprendida na Academia. Deve-se ir onde o povo está, a gente tem que se alimentar no empírico, no concreto”. Francisca disse, ainda, que a legislação e a formação em Psicologia privilegiaram o modelo clínico, de atendimento em consultórios, nos modelos europeu e americano, favorecendo abordagens muito individualistas.

Ana Maria procurou enfatizar a interface existente entre Psicologia e Educação. Para ela, o ensino de Psicologia, como o de várias outras profissões, costuma ser desvinculado da realidade, resultando em uma fragmentação do conhecimento: “O processo educativo trabalha sob uma lógica mercadológica. Essa fragmentação ocorre devido à pressão do mercado sobre a Educação”, disse a psicóloga.

Elizabeth Paiva, psicóloga do Departamento Geral de Ações Sócio-educativas (DEGASE) – Unidade de Semi-liberdade de Nilópolis, afirmou que a Psicologia sempre esteve voltada para tentar explicar patologias e causas de certos delitos cometidos pelos adolescentes. Para ela, o setor jurídico se habituou a esperar do psicólogo um parecer sobre a probabilidade que o jovem infrator tem de voltar a cometer ou não um delito. “O desafio do psicólogo nessa área é dar voz ao sujeito, para que ele possa aparecer dentro dos tribunais, podendo falar em seu nome, dizendo qual o seu plano de vida. É na audiência que o jovem deve mostrar a sua narrativa própria. Eu não posso intervir, minha função é trabalhar a subjetividade desse jovem”, disse Elizabeth.

Foto do público do evento.

Os presentes debateram com a mesa questões específicas dos psicólogos que atuam na Baixada Fluminense e temas mais amplos, como o trabalho do psicólogo no contexto do capitalismo atual.

Segundo a psicóloga do DEGASE, a Psicologia Jurídica se desenvolve em um ambiente hostil: “Acho que se trata de uma operação de guerrilha. Nós trabalhamos em uma instância autoritária, ameaçadora. O Tribunal de Justiça está longe de ter uma prática democrática”.

Após as apresentações, os presentes debateram com a mesa questões específicas dos psicólogos que atuam na Baixada Fluminense e temas mais amplos, como o trabalho do psicólogo no contexto do capitalismo atual.

Durante a tarde, foram realizadas duas oficinas, com a exibição do documentário Estamira e do vídeo Medicalização da Vida Escolar, apresentado por Ana Carla Silveira e Helena do Rego Monteiro, colaboradoras da Comissão de Direitos Humanos do CPR-RJ.

Texto: Jean Souza

31 de janeiro de 2007