O que temos a aprender com os índios depois de tanta matança?

Categoria(s):  DIREITOS HUMANOS, NOTAS, Notícias   Postado em: 19/04/2017 às 15:40
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Há mais de 500 anos os indígenas são oprimidos em terras brasileiras. O genocídio que antes era marcado pela ocupação bandeirante e a colonização, hoje tem o agronegócio e os grandes empreendimentos como principais agentes desse modelo de desenvolvimento que aniquila o modo de viver da população nativa. Embora nossa constituição e diversos tratados internacionais lhes deem garantias, seus direitos são sistematicamente violados.

Segundo o último estudo do IBGE, existem aproximadamente 900 mil índios no país, que se dividem entre 305 etnias e falam cerca de 275 línguas. Dados que tornam o Brasil um dos países com a maior diversidade sociocultural do planeta. Apesar de toda essa riqueza, a modernização e o progresso da civilização nacional persiste em destruí-la. Costumes, crenças, línguas e tradições, além dos seus direitos originários sobre seus territórios, são historicamente atropelados.

Entra e sai governo e os impasses e negligências do Estado brasileiro com os índios se mantém. As populações nativas continuam sendo tratadas e vistas como uma ameaça e obstáculo por uma sociedade que avança sobre suas terras, dizia há décadas atrás Darcy Ribeiro, um dos maiores antropólogos que tivemos. O que lhes resta é a miséria e a dependência com a civilização, que torna seus ideais de vida cada vez mais inviáveis.

Os conflitos fundiários continuam, como é o caso do Mato Grosso do Sul, estado com a segunda maior população indígena do país e que possui a maior concentração de terras. É lá onde os Guarani Kaiowá, que estão morrendo assassinados ou se matando. A construção de Belo Monte e outras hidrelétricas não foram interrompidas, apesar de protestos nacionais e internacionais. O estímulo a plantações como a soja e a crescente exploração de minérios são mais exemplos predatórios do avanço sobre suas terras. PEC 215, Código Florestal, dentre outros iniciativas da poderosa bancada ruralista, sufocam ainda mais esse segmento.

Por isso é essencial que se viabilize mecanismos para eles mesmos criarem suas condições de sobrevivência e manutenção de costumes. O direito à autodeterminação dos povos indígenas e a ruptura com o modelo de tutela do estado, há muito ultrapassado, é urgente. Dar voz aos povos das florestas e seus imigrantes nas cidades, que não se sentem representados ou são omitidos pela mídia que tem interesses contrários aos seus. Algumas terras foram tituladas nos últimos anos e políticas públicas lhes deram algum atendimento, mas a estrutura que os aniquila continua avassaladora e muito mais forte.

Ainda temos muito a aprender com os saberes indígenas, sobretudo no que diz respeito à sua relação com a natureza. Não se limita só à questão ambiental e climática, mas também na área social, educacional e da saúde, dentre outras. Dar valor ao conhecimento tradicional, e repensar o modelo de desenvolvimento garantindo uma relação harmônica entre a ciência e a sociobiodiversidade indígena. Reconhecer sua contribuição histórica para a formação da nossa sociedade, e ter coragem de enfrentar esse genocídio. Os guardiães das matas podem apontar um caminho alternativo mais justo e ambientalmente adequado à nação.