JORNADA DE PSICOLOGIA HOSPITALAR DO CRP-RJ LOTA AUDITÓRIO DO HOSPITAL DOS SERVIDORES

Categoria(s):  DIA DO PSICÓLOGO, Notícias, SAÚDE   Postado em: 28/08/2019 às 15:27
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Auditório do Hospital dos Servidores lotado durante o evento

Por meio da sua Comissão de Saúde, o CRP-RJ realizou, no dia 21 de agosto, a Jornada de Psicologia Hospitalar: “Experiências e Desafios dos Hospitais e Institutos Federais do Rio de Janeiro”. O evento, que integrou a agenda comemorativa do CRP-RJ pelo Dia da (o) Psicóloga (o), lotou o auditório do Hospital dos Servidores, no Centro do Rio de Janeiro.

O objetivo do evento foi apresentar práticas da Psicologia Hospitalar, estimulando a troca de experiências e fomentando o debate em torno das dificuldades e avanços encontrados na trajetória de atuação dos profissionais da rede de hospitais e institutos federais.

Rosilene Souza Gomes (CRP 05/10564), psicóloga vice-presidente do CRP-RJ e coordenadora da Comissão de Saúde do Conselho, deu as boas-vindas ao público problematizando o quadro de precarização das relações de trabalho na rede de hospitais e institutos federais através da contratação de psicólogas (os) via Contratos Temporários da União, que, “como o próprio nome diz, são temporários, não são uma solução para o problema”.

Conforme destacou, “na Psicologia, especificamente, isso é ainda mais grave porque o psicólogo precisa criar vínculo, que é construído com o tempo. A alta rotatividade dos profissionais não permite que o trabalho seja desenvolvido da melhor maneira. Só cresce o número de pessoas que precisam do SUS e o número de pessoas que trabalham só diminui, seja por aposentadorias, exonerações em função das péssimas condições de trabalho ou a volatilidade dos contratos temporários”.

“Temos que lutar por um SUS de qualidade para a população e para nós, profissionais da Saúde. O SUS é uma das políticas públicas que mais emprega psicólogos. Ele é um bem da população e de seus trabalhadores”, concluiu a psicóloga.

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Lindiston (ao microfone), Antônio e Rosilene na mesa de abertura

Compôs também a mesa de abertura Antônio José de Souza Cypriano Neves, médico-coordenador do Hospital dos Servidores, que, em nome da instituição, agradeceu “a oportunidade de sediar o evento da Psicologia, destinado a profissionais e estudantes da área da Saúde, pois, segundo ele, o Hospital “valoriza sobremaneira a multidisciplinaridade e o ensino. O hospital precisa de toda a rede, não somente médicos e enfermeiros, mas também psicólogos, fonoaudiólogos, técnicos. É a nossa união em nome do bem comum que mantém este como um hospital de excelência, mesmo em meio a tantas dificuldades”.

Lindiston Pereira da Silva, representante do Sindicato dos Psicólogos do Rio de Janeiro, encerrou a mesa de abertura trazendo um questionamento fundamental em relação ao bem público, como é o caso da saúde e da educação. “Estamos falando de bens comuns, e a conceituação do que é bem comum está sendo capturada, deturpada; ao contrário de pensarmos o bem comum como algo feito pelo coletivo e para o coletivo, estamos presenciando uma captura deste bem comum para algo que passou a ser um bem a que se tem acesso somente de forma privada, para quem pode pagar. Qual o impacto disso na sociedade?”.

“A desconstrução do bem público na atual conjuntura começa com um déficit de recursos humanos, pois não há concurso público. A ausência de profissional significa fechamento de leitos. Só no âmbito federal tivemos o fechamento de 300 leitos. Porém, em contrapartida, temos aumento da demanda da população”, criticou ele.

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Glória (ao microfone) e Rosilene durante a conferência de abertura

CONFERÊNCIA DE ABERTURA

“Cenário da Psicologia Hospitalar no Brasil” foi o tema da conferência de abertura, que teve a participação de Glória Heloise Perez (CRP 06/19634), psicóloga presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar (SBPH).

“A história da Psicologia Hospitalar no Brasil nos conta que desenvolvemos, ao longo dos anos, um fazer empírico do psicólogo no hospital e, a partir desse fazer e saber, consolidamos um lugar de especialidade”, destacou a presidente da SBPH. “A Psicologia Hospitalar é uma área do campo da Psicologia Clínica e da Psicologia da Saúde, mas tem muitas especificidades que a distinguem. A prática da Psicologia Hospitalar não se refere a um local específico, mas a um campo de atuação mais amplo”, explicou ela, afirmando que essa prática insere-se num contexto de atuação multidisciplinar, voltado para um cuidado compartilhado e integral do paciente.

“Hoje, o psicólogo é reconhecido como um profissional do hospital”, sublinhou ela, destacando três fatores que, em sua avaliação, contribuíram para a consolidação da inclusão do psicólogo no hospital. “Em primeiro lugar, eu destacaria o interesse de o psicólogo trabalhar em diferentes contextos, abrindo um campo de trabalho alternativo à clínica privada. O segundo aspecto é a formação em campo, que se aproxima muito das residências médicas e tem o objetivo de suprir as lacunas da graduação. O terceiro ponto refere-se à inclusão, pelo Ministério da Saúde, da atuação do psicólogo em portarias que regulamentam os profissionais de Saúde em hospitais desde 1994”, apontou.

HOSPITAL DE IPANEMA, DA LAGOA E SERVIDORES

As experiências e práticas desenvolvidas pelas equipes de Psicologia dos Hospitais Federais de Ipanema, da Lagoa e Servidos do Estado foram tema do primeiro debate que ocorreu ainda na parte da manhã. Compuseram a mesa Thyanne de Lima Santos (CRP 05/54354), psicóloga da equipe do Hospital Federal de Ipanema, Patrícia de Castro Barbosa (CRP 05/28883), coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Federal da Lagoa, e José Mauro Ferreira Barbeita (CRP 05/26500), psicólogo responsável técnico do Hospital Federal dos Servidores do Estado. A mediação foi de Júlia Nasser (CRP 05/33796), psicóloga e colaboradora do CRP-RJ.

Thyanne Santos, do Hospital de Ipanema, destacou a integração na tríade de relação paciente-equipe-família como um dos principais fatores para uma melhor prática em Psicologia Hospitalar. A psicóloga relatou alguns tipos de atendimento que favorecem a criação de vínculo com o paciente e sua família.

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Palestrantes das mesas da parte da manhã do evento durante o debate com a plateia

“Um trabalho importante que fazemos é levar o setting psi para a cadeira ao lado do paciente que está fazendo quimioterapia. Ou seja, estamos ali com ele no momento do seu tratamento. Isso cria um vínculo e uma integração muito maior entre a equipe, o doente e a família, pois estamos ali para escutar sua angústia numa hora tão sensível”, revelou.

A psicóloga mostrou que sua equipe também aposta na desconstrução da ideia de hospital apenas como local de sofrimento e doença. “Coisas boas também acontecem no hospital. Reforçamos esse conceito através de ações práticas e, muitas vezes lúdicas, como festas e comemorações, e grupos de apoio presencial e via Whatsapp. E essa integração tem gerado resultados inclusive medidos quantitativamente, pois a nossa projeção de demanda de pareceres só cresce e o número de atendimentos também. O psicólogo é cada vez mais requisitado pela equipe e pelos pacientes”, disse.

Patrícia Barbosa, do Hospital da Lagoa, que é referência no tratamento de crianças com doenças hematológicas, ressaltou o diferencial criado para trazer um maior acolhimento às crianças e suas famílias. “No Hospital da Lagoa, temos o Aquário Carioca, que foi uma ideia voluntária, criada pelo designer Gringo Cardia, com a proposta de humanizar o tratamento que transformou nosso centro oncológico e as salas de quimio num ambiente lúdico e acolhedor para nossos pacientes”, afirmou.

“Nosso trabalho é atuar de forma multidisciplinar, sentando inclusive do lado do nosso paciente na sala de quimio. Temos bonecas com cateter que, de forma lúdica, aproximam a criança do que será feito com ela, desfazendo ideias aterrorizantes que podem povoar seu imaginário e também das mães e dos pais”, explicou a psicóloga, ressaltando também a equipe do hospital “dá atenção especial à fase pré-diagnóstica, que traz muita ansiedade e angústia. O diagnóstico, o início do tratamento e as fases do tratamento, que é doloroso, carregam um sofrimento psíquico muito grande”.

José Mauro, do Hospital dos Servidores, falou sobre a implementação do serviço de Psicologia do hospital e pontuou os impactos atuais decorrentes da diminuição crescente dos recursos humanos. “Na nossa área especificamente, o Serviço de Psicologia foi criado em 1983, mas desde 1976 já tínhamos as primeiras psicólogas atuando. O nosso último concurso público foi em 2005, no qual passaram a fazer parte do corpo de servidores do hospital 24 psicólogos. Hoje, somos apenas 11, e até o final do ano, a projeção é que sejamos 7, pois vários estão em processo de aposentadoria. Essa diminuição causa um grande impacto no número de atendimentos em uma população que necessita cada vez mais do nosso trabalho”, argumentou.

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