GT de Psicologia do Esporte debate “Esporte e relações raciais”

Categoria(s):  ESPORTES, Notícias, RELAÇÕES RACIAIS   Postado em: 19/05/2009 às 17:28

O Grupo de Trabalho de Psicologia do Esporte do CRP-RJ promoveu, no dia 11 de maio, mais um evento do ciclo de debates “Lance-Livre”. Com o tema “Esporte e relações raciais”, o encontro contou com a participação do professor titular da UGF, professor adjunto da UFRJ e doutor em Educação Física Antonio Jorge, e do psicólogo membro do GT de Psicologia e Relações Raciais do CRP-RJ Celso Moraes Vergne (CRP 05/27753).

Foto do ciclo de debates Lance Livre.

Foto dos palestrantes Antonio Jorge e Celso Moraes Vergne.

Antonio Jorge e Celso Moraes Vergne debateram “Esporte e relações raciais”.

Celso começou o debate falando sobre a questão do esporte visto como “salvador” de jovens de comunidades pobres. “Muitas vezes, acabamos naturalizando uma ‘inevitabilidade’ de os jovens entrarem para a criminalidade se não houver a opção do esporte”. Ele lembrou que a visão do esporte como possibilidade de ascensão social não se sustenta para a maioria desses jovens. “Há milhares de jovens em escolinhas, mas quantos deles vão conseguir ser atletas profissionais? E quantos vão ganhar um salário digno? Isso produz muita frustração”, afirmou.

O psicólogo também questiona o fato de, nessas escolinhas, não ser trabalhado o contexto social em que vivem essas crianças. “A maioria dessas crianças é negra e passam por situações que devem ser discutidas. Imaginem se seus filhos, ao chegarem da escola, tivessem suas mochilas revistadas pela polícia? Além disso, esses meninos ouvem constantemente que só terão futuro se forem jogadores de futebol ou ‘pagodeiros’”.

Dessa forma, para Celso, “quando dizemos que ‘esporte é salvação’, esquecemos que as práticas cotidianas não produzem essa ‘salvação’. Se aceitamos esses jovens só por causa do esporte, estamos silenciando sobre sua inserção nessa sociedade, que é racista. Se não discutimos racismo com esses meninos, estamos dizendo para eles que o racismo não existe”.

Antonio Jorge, por sua vez, iniciou sua fala com um contexto histórico sobre o racismo. “Sempre que surgem ideologias igualitárias, há discursos para contrapô-las. No século XIX, por exemplo, para rebater a afirmação de que todos somos iguais, surgem teorias ‘científicas’ diferenciando as etnias, como a que media a inteligência pelo tamanho do cérebro”, disse, acrescentando que essas teorias são criadas para justificar as desigualdades sociais e raciais.

Para o professor, no Brasil, essas teorias serviram para excluir socialmente os negros após a abolição da escravidão. “No Brasil, não houve ferramentas de exclusão diretas, como na África do Sul, mas temos uma potente ideologia que integra para hierarquizar, Há uma ascensão social limitada”. Assim, o futebol e outras áreas teriam surgido como “vias de integração do negro”. “O elogio ao negro em relação ao futebol ou à mulata em relação ao samba reafirmam um ‘local’ que seria reservado para eles na sociedade. Assim, marcou-se uma hierarquia no pós-abolição”, afirmou.

Nesse contexto, o racismo no país não teria se desenvolvido de forma aberta, mas velada. “Hoje, ‘pega mal’ ser racista no Brasil. Ninguém se assume enquanto racista; racista é sempre o outro. Então, o racismo se manifesta mais em situações privadas no que públicas. Nas públicas, só aparece em casos de conflito, quando alguém ‘perde a cabeça’, mas, geralmente, essa pessoa vem a público se desculpar depois. É comum se justificar dizendo, por exemplo, ‘eu não sou racista; tenho até amigos negros’”. Desse modo, o Brasil teria desenvolvido uma ambigüidade: “a sociedade brasileira, em sua estrutura, é racista e hierarquizada pela cor, mas há uma ideia, ao mesmo tempo, de que não se pode ser racista, então o racismo é envergonhado”, concluiu.

Os debates do GT de Psicologia do Esporte  são quinzenais e apresentam temas livres sugeridos por psicólogos e estagiários que atuem na área. Os eventos sempre contam com profissionais do esporte e da atividade física como convidados.

Informações sobre os eventos podem ser obtidas pelo e-mail eventos@crprj.org.br. Já para entrar em contato com o GT de Psicologia do Esporte, escreva para gtesporte@crprj.org.br.

Texto e fotos: Bárbara Skaba

19 de maio de 2009