Debate sobre suicídio e saúde mental lota auditório da Subsede do CRP-RJ em Nova Iguaçu

Categoria(s):  Notícias, SUBSEDE BAIXADA   Postado em: 04/11/2019 às 19:53

Sem titulo 2Psicólogas (os) e estudantes de Psicologia lotaram, no dia 30 de outubro, o auditório da Subsede do CRP-RJ na Baixada Fluminense para a 38ª edição do “Rodas e Encontros”, que teve como tema “Suicídio: Importante falar o ano todo – Qual a relação entre o suicídio e a saúde mental?”.

A conselheira vice-presidente do CRP-RJ e integrante da Comissão Gestora da Baixada, Mônica Valéria Affonso Sampaio (CRP 05/44523), deu início ao evento destacando a importância do debate sobre a temática e afirmando: “Não há saúde no capitalismo, não há saúde onde há fome, desigualdade, exclusão e violação de direitos”.

Em seguida, Pedro Moacyr Brandão Júnior (CRP 05/29848), psicólogo, coordenador-assistente do curso de Psicologia da UNIGRANRIO e psicanalista membro do Fórum do Campo Lacaniano de Nova Iguaçu, iniciou a mesa de debates criticando o que chamou de “espetacularização do problema suicídio”. Segundo ele, dentro desse processo, o suicídio é abordado de forma superficial, bidimensional e medicalizante.

“Não podemos afirmar que apanhar, sofrer algum tipo de violência ou viver em situações de miséria subjetiva são necessariamente causas de outras questões, como suicídio ou abuso sexual, por exemplo. Em termos psíquicos, fazer uma correlação de causa e efeito, assim bidimensional, é muito perigoso”, argumentou o psicólogo, defendendo a importância de se “escutar o sujeito de uma outra maneira: se eu, como analista, dou explicações para aquilo que o sujeito está falando, eu não estou ouvindo nem acolhendo esse sujeito”.

O palestrante também problematizou o uso superestimado dos manuais internacionais criados para a prevenção ao suicídio como ferramenta principal na atuação da (o) psicóloga (o) e defendeu um olhar atento dessa (e) profissional para essas questões.

WhatsApp Image 2019-10-31 at 08.26.37“Por que precisamos de um manual para saber identificar quando alguém está sofrendo? Por que só acolhemos o sofrimento quando o sujeito está em risco de se matar? Os sinais de risco de suicídio são sempre sinais de sofrimento psíquico. Agora, todos nós podemos, inesperadamente, cometer suicídio também, mesmo não apresentando nenhum desses sinais presentes nos manuais”, analisou.

“Precisamos pegar os saberes instituídos pela Medicina e pela Psiquiatria, por exemplo, e usá-los em favor do nosso paciente. Quando você espetaculariza um problema complexo como o suicídio, você não produz saúde; você produz patologia e novos casos a serem medicalizados”, criticou Pedro Moacyr.

Annie Varella, estudante Psicologia da Unigranrio, advogada e jornalista, destacou, por sua vez, que “a situação está tão alarmante que o suicídio se tornou uma agenda global. Ao todo, são 800 mil mortes por ano em todo o mundo, 11 mil delas somente no Brasil”.

Segundo a palestrante, a (o) psicóloga (o) deve pensar a importância de sua atuação não apenas na prevenção ao suicídio. Conforme sublinhou, “dados estatísticos dão conta de que, na tentativa frustrada de suicídio, se você tiver um acolhimento correto e uma escuta eficiente junto a esse sujeito, há grandes chances de ele não atentar contra a própria vida novamente”.

A jornalista e estudante de Psicologia também abordou a relação da temática do suicídio com o universo da comunicação social, criticando também a “espetacularização do suicídio”. “Não se deve esquecer que a indústria cultural produz subjetividades, promovendo doenças e fazendo com que o real se transforme em um espetáculo”, afirmou.

“Durante muito tempo, a mídia não divulgava casos de suicídio por medo do contágio, quer dizer, medo de que outras pessoas se sentissem encorajadas a fazer o mesmo. No Jornalismo, ainda não se debate muito sobre o suicídio, e isso é grave porque o comunicador é um mediador, é ele que vai mediar a informação junto ao público”, analisou Annie Varella.

Encerrando a mesa de debates, Soneide de Sales Lima (CRP 05/21395), psicóloga, psicanalista membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano e mestre em Clínica e Pesquisa em Psicanálise (UERJ), enfatizou a grande subnotificação estimada que há ainda nos casos de suicídio no mundo, o que torna o problema ainda mais agravado. Segundo ela, a melhor forma de atuar na prevenção ao suicídio é falar amplamente sobre a temática “de janeiro a janeiro”, dando voz ao sujeito e acolhendo o seu sofrimento.

A psicóloga compartilhou, ainda, casos clínicos decorrentes de sua experiência de cerca de 15 anos atuando no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e também teceu críticas à “espetacularização do suicídio”, afirmando que ela propaga uma “generalização dos sintomas de sofrimento psíquico, enquanto que, quando falamos em subjetividades e transtornos, falamos de uma grande diversidade de tipos clínicos com várias particularidades”.

Por fim, a palestrante falou um pouco sobre seu livro recém-lançado, “A transferência nas psicoses: a erotomania e as próteses do amor”, que aborda, a partir de seus 25 anos de experiência como psicóloga clínica, as possibilidades de transferência em casos de psicose.