Debate sobre os 55 anos de profissão regulamentada no Brasil encerra 11ª Mostra

Categoria(s):  MOSTRA, Notícias   Postado em: 28/07/2017 às 11:31

A conferência de encerramento da 11ª Mostra Regional de Práticas em Psicologia, no dia 21 de julho, trouxe Pedro Paulo Bicalho (CRP 05/26077), membro da diretoria do Conselho Federal de Psicologia e professor da UFRJ, para debater o tema “A prática profissional da (o) psicóloga (o) nos 55 anos de profissão regulamentada no Brasil”.

Pedro Paulo iniciou sua fala ressaltando a importância do evento promovido pelo CRP-RJ, que alcança o marco de 11 edições e mantêm o compromisso de continuar a garantir esse espaço de troca e construção de conhecimento. Em seguida, apresentou o panorama da profissão de psicóloga (o) no Brasil.

“Nós somos quase 300 mil psicólogos no Brasil, e esse número nos faz o país com maior número desses profissionais no mundo. Desses, quase 90% são psicólogas, então somos uma profissão de mulheres. Outra coisa importante é saber que 60,8% das psicólogas e dos psicólogos estão trabalhando com políticas públicas. Então, temos que pensar como nossa profissão mudou. E essa discussão tem que vir acompanhada de um questionamento sobre como a nossa formação deve se atualizar para contemplar as mudanças da nossa profissão”, afirmou.

“A nossa formação não está condizente com uma prática de trabalhadores de políticas públicas. Nossa profissão, nesses 55 anos, mudou de um perfil de profissional liberal para o perfil de uma trabalhadora de SUAS (Sistema Único de Assistência Social) e de SUS (Sistema Único de Saúde), por exemplo. Justamente porque estamos inseridos desta forma determinante nas políticas públicas é que temos que lutar muito para mantê-las. Não só porque elas nos empregam, mas porque elas são de fato os instrumentos que temos para diminuir a desigualdade social tão forte do nosso país”, defendeu Pedro Paulo.

IMG_2210E continuou: “Para continuar e aumentar nossa luta pela garantia dos nossos direitos e da manutenção das políticas públicas, temos que nos encontrar e nos articular. Hoje, o que chamamos de Sistema Conselhos são um Conselho Federal e 23 Conselhos Regionais. Mas, o Sistema Conselhos de Psicologia não é a única instância que nos coletiviza. É importante lembrar que, além de um Sistema Conselhos, nós possuímos mais 23 entidades nacionais, que são espaços para a Psicologia brasileira se articular e construir redes, aprender com as práticas e construir novos conhecimentos”.

Pedro Paulo falou também das diversas formas de articulação da Psicologia brasileira com a Psicologia internacional, na qual é amplamente reconhecida, entre outras pautas pelas questões relacionadas à população LGBT, na qual o país é considerado um expoente. “A Psicologia brasileira é reconhecida no mundo inteiro como pioneira nas questões de proteção e promoção de direitos LGBT. A Resolução 001/99 é um motivo de orgulho, mas também um motivo de muita luta, pois produziu uma série de conquistas na qual nos posicionamos que as questões LGBT não são patologia ou doença, portanto não cabe à Psicologia brasileira enfrentar essas questões desse lugar de quem vai curar”.

“Essa é uma Resolução cara a nós do ponto de vista de garantia de direitos, pois sabemos que ela tem sido muito utilizada não somente por psicólogos, mas também e em especial por magistrados para que tenham algum tipo de apoio em ações judiciais que versem sobre a adoção de crianças para casais homoparentais. Ou seja, essa não é uma Resolução para punir psicólogos, mas sim para garantir direitos”, concluiu.

O professor da UFRJ lembrou ainda que não é só na questão LGBT que a Psicologia vem pautando discussões de Direitos Humanos na sociedade brasileira, uma vez que a profissão se posicionou claramente contra políticas de caráter higienista que atingem às populações em situação de rua e fragilizadas com o uso excessivo de álcool e drogas.

“Epidemia é uma forma muitas vezes colocada para justificar medidas de caráter arbitrário e higienista, sem nem sequer ser apoiado em pesquisas. Temos que estranhar as campanhas de guerra e de inimigo interno como, por exemplo, a chamada “guerra às drogas”. Precisamos pensar e problematizar ao que isso se refere como política pública. Temos também que entender que acolhimento não é recolhimento, e nossas práticas não podem, em nome de proteção e acolhimento, produzir maior sofrimento psíquico do que a própria situação em que a pessoa se encontra. A lógica de recolhimento nada mais é do que tirar dos nossos olhos e ouvidos a realidade que a desigualdade social produz. Esconder o problema não é o mesmo que sanar o problema”, finalizou Pedro Paulo.

Para assistir à íntegra desta palestra em vídeo, acesse https://youtu.be/0CuI0Fd2xZA